Após a obtenção de crédito rural para compra de insumos e equipamentos agrícolas, a próxima etapa no processo de digitalização das fazendas é a escolha de tecnologias que coletarão dados do campo.
Assim como em qualquer setor, a coleta de dados é importante, pois permite um melhor gerenciamento das operações. As informações obtidas podem ajudar os produtores a identificar pontos de eficiência, levando a maiores níveis de produtividade e rentabilidade.
Isso, pois quanto mais sabem sobre suas operações, maiores são as chances de tomarem decisões assertivas, e, no caso do agronegócio, isso significa produzir mais, com mais qualidade, segurança e cada vez mais preocupado com o meio ambiente.
Dispositivos IoT no setor Agro
Uma das formas de obtenção desses tipos de dados é por meio de dispositivos IoT e sensores, que podem ser espalhados em todo o território. Com o objetivo de coletar, monitorar e trocar dados sem a presença de um humano, a Internet das Coisas (IoT) tem cada vez mais chamado a atenção em diversos setores. São capazes de conectar objetos, como câmeras, meios de transporte, máquinas industriais e sensores, à rede mundial de computadores.
De acordo com a Business Insider, haverá mais de 24 bilhões de dispositivos IoT no mundo até 2020. O impacto da tecnologia na economia será entre 4% a 11% do PIB global em 2025, sendo que, entre 2015 e 2020, serão investidos US$ 6 trilhões na tecnologia mundialmente, segundo a McKinsey. No Brasil, a tecnologia poderá gerar entre US$ 50 e US$ 200 bilhões de impacto econômico anual em 2025.De acordo com a Embrapa, em relatório divulgado em 2017, os sensores e dispositivos IoT também são importantes no agronegócio. Por conta de seus inúmeros benefícios, estima-se um grande crescimento no número de aparelhos agrícolas IoT.
A Business Insider prevê que haverá 75 milhões dispositivos agrícolas IoT até 2020, com crescimento anual de 20%. Além disso, o mercado de smart agriculture (que consiste na aplicação de soluções de IoT na agropecuária) triplicará até 2025, alcançando US$ 15,3 bilhões. São usados no monitoramento do solo, de culturas, da pecuária e de equipamentos agrícolas. São importantes pela capacidade de obterem informações importantes para os produtores, que geralmente são captadas de forma manual, como, por exemplo:
- Detalhes topográficos;
- Condições climáticas;
- Qualidade do solo;
- Crescimento do plantio;
- Saúde do gado;
- Eficiência dos equipamentos e performance das equipes.
A experiência de grandes empresas
A Souza Cruz, líder no mercado nacional de cigarros e referência no sistema integrado de produção de tabaco, é um exemplo de corporação que identificou demandas no campo em relação à utilização de tecnologia para acompanhamento do desenvolvimento de safra, trazendo maior precisão para a tomada de decisão no manejo, comercialização e utilização da produção.
Contando com a expertise de orientadores agrícolas que prestam assistência técnica e de gestão aos mais de 25 mil produtores de tabaco integrados, a empresa implementa novas tecnologias aplicáveis a pequenas e médias propriedades por meio da equipe de Difusão de Tecnologias.
Segundo Dimar Frozza, Diretor de Tabaco da Souza Cruz, há uma grande oportunidade para introdução das tecnologias no campo, e as startups são essenciais nesse cenário.
“As startups acompanham a velocidade de mudança das tecnologias, permitem a customização dos serviços, são rápidas e podem atender às especificidades de cada tipo de produtor. Isso é interessante para nós, por lidarmos com tabaco, uma cultura que é produzida em milhares de propriedades familiares, cada uma com uma necessidade diferente”.
A empresa iniciou recentemente seu relacionamento com o ecossistema por meio do programa de aceleração Transforma Souza Cruz, em parceria com a Liga Ventures.
Apesar de enfrentarem dificuldades com baixa conectividade nas áreas rurais, falta de mão de obra capacitada, integração de dados, qualidade do hardware, custos elevados e segurança cibernética, iniciativas corporativas com o ecossistema de startups vem se demonstrando uma interessante possibilidade para o crescimento de IoT e sensores no setor.
O Agro IoT Lab, criado pela Vivo, Ericsson e Raízen selecionou seis startups para desenvolver soluções para o agronegócio através da rede 4G da Vivo. A empresa disponibiliza a frequência de 450 MHz, com o objetivo “diminuir os problemas de conectividade nas fazendas e zonas rurais com extensões territoriais altas, que precisam de cobertura”.
Uma das selecionadas no Agro IoT LAb foi a AgriConnected, que faz gestão e monitoramento de maquinário agrícola em tempo real e, em 2 meses, analisou mais de 4 milhões de dados de máquinas agrícolas.
Com um dispositivo que pode ser acoplado à qualquer máquina agrícola, é capaz de coletar dados como geolocalização, gerando economia de combustível e manutenção e evitar a perda de produtividade na lavoura.
De acordo com o CEO, Boris Rotter, e o COO, Vitor Zandonadi, da AgriConnected, o grande problema que resolvem é o de falta de mão de obra qualificada.
“Os produtores não consegue fazer a gestão da atividade dentro do campo, é quase impossível saber a qualidade da sua execução. Com esta gestão dependendo da máquina, conseguimos gerar um ganho de combustível de 6% a 30% e melhoramos as manutenções de 24% a 60%”.
Segundo eles, um dos principais desafios da startup é chegar aos produtores. “O agronegócio é muito disperso. O custo de aquisição dos clientes é maior do que os outros setores”, dizem.
As possibilidades de otimização via IoT
A otimização de máquinas e operações por meio de dispositivos IoT e sensores também tem sido o foco da John Deere, uma das maiores fabricantes de equipamentos agrícolas. Uma das iniciativas da empresa é o JDLinkTM, uma solução de telemetria que transmite dados da máquina e dados agronômicos.
Em 2018, lançou o Centro de Operações, uma plataforma que realiza o gerenciamento de dados online, integrando informações das máquinas, de produção e agronômicas para proporcionar melhores decisões ao produtor, que pode otimizar a operação das máquinas, identificar possíveis reduções de custos e tornar a aplicação de insumos mais eficientes, à distância.
Para Rois Nogueira, Gerente de Soluções Integradas da John Deere Brasil, “Os produtores precisam cada vez mais de integração entre sistemas e do acesso em tempo real à internet para tomar as melhores decisões”, diz.
Além disso, ele acredita que as startups têm um papel essencial, pois podem trazer novas ideias para o setor e também novas soluções.
As oportunidades para as AgTechs
Na pecuária, os dispositivos IoT e os sensores se tornam uma ferramenta importante para monitoramento do gado, obtendo informações sobre fertilidade, comportamento, localização e níveis de lactação, por exemplo.
Uma que vem chamando a atenção de grandes players do setor é a JetBov. Fundada em 2015, a startup ajuda produtores pecuários, com uma plataforma offline, a coletar dados do campo, entendendo, sobretudo, se o manejo do gado está correto. Também se propõem a solucionar problemas de gestão financeiras e monitoramento de áreas produtivas de pasto e pequenos confinamentos.
Os clientes da JetBov que usam a automação de coleta de dados conseguem diminuir em 70% o tempo de manejo, e conseguem quase que em tempo real, saber exatamente como estão os indicadores financeiros e de produtividade. Atualmente a startup ultrapassou mais de 1,5 milhão de animais, em mais de 800 fazendas.
Segundo Xisto Alves, CEO da JetBov, a plataforma se propõe dar aos produtores informações para embasar as tomadas de decisão.
“Vamos além da entrega dos dados brutos aos clientes. Entregamos insights relevantes para que tenham uma visão clara e precisa sobre suas fazendas, permitindo uma gestão cada vez mais profissional do negócio”, diz. Ao mesmo tempo, ele também conta que é preciso apoio de grandes corporações do setor. “As empresas podem contribuir avaliando a solução e apontando melhorias. Podemos trabalhar juntos, trazendo know how e tecnologia aos produtores”, complementa.
A Olho do Dono é uma startup fundada em 2015, no Piauí, que utiliza uma câmera 3D para acompanhar o gado, onde os produtores podem acompanhar a evolução de peso, identificar possíveis doenças, verificar a eficiência da suplementação alimentar, entre outras funcionalidades.
Fundada em 2013, a BovControl é uma startup que coleta dados por meio de dispositivos de identificação, como brincos e chips, e faz a análise das informações de forma automática, podendo ser integrados com outros sistemas existentes. Já arrecadou US$ 1,2 milhões em investimentos.
A Moocall é uma startup irlandesa que utiliza de um sensor não invasivo capaz de detectar quando um animal está entrando em trabalho de parto e monitorar o movimento e padrões de atividade que significam que os bezerros estão nascendo.
A Cropx, fundada em Israel em 2013, usa dados e sensores para ajudar produtores a entenderem melhor o uso de água. Com algoritmos capazes de reconhecer padrões, analisam as terras para determinar a topografia da área. A startup já levantou US$ 10,9 milhões em investimentos.