12 de setembro de 2022 Artigos

A tecnologia e o combate aos problemas de aprendizagem

Uma análise sobre o papel da tecnologia e da transformação digital no combate aos problemas de aprendizagem em escolas brasileiras

por

 

Dificuldades na interpretação e na construção de textos, na realização de operações matemáticas simples e problemas de aprendizagem em geral, são questões que, infelizmente, ainda fazem parte da realidade educacional brasileira. Além disso, as mudanças de necessidades e requisitos de um mercado de trabalho imerso em tecnologia também esbarram na carência do desenvolvimento das soft skills – habilidades que serão diferenciais cada vez mais buscados, conforme apontado pelo estudo global Digital Transformation 2017, da Capgemini, onde 60% das empresas já sofrem com carência de soft skills em suas equipes. 

Apenas para termos dimensão da problemática que envolve os processos de aprendizagem no país, de acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) 2017, menos de 4% dos alunos do 3º Ano do Ensino Médio no país possuem conhecimentos considerados adequados em Português e Matemática.

O SAEB de 2017 teve participação obrigatória da rede pública, contando ainda com participação facultativa dos alunos de escolas particulares. Por sua vez, um estudo do Portal Dados do Enem constatou a dificuldade dos alunos na apresentação de soluções para problemas e no desenvolvimento de redações.

As razões para os problemas de aprendizagem nas escolas e para a dificuldade de difusão da tecnologia

As razões para tais dificuldades, certamente, envolvem alguns dos obstáculos educacionais que apresentamos aqui – da estagnação dos processos metodológicos até a baixa atualização de conhecimentos do corpo docente do país.

Dentro dessa discussão sobre os problemas de aprendizagem, a boa notícia é que a tecnologia surge como um instrumento importante para a superação dos problemas de aprendizagem auxiliando, ainda, os professores a aumentar o rendimento dos alunos em sala de aula. 

Uma pesquisa realizada na Colômbia e divulgada em reportagem da BBC, por exemplo, aponta que o uso de recursos tecnológicos melhorou em 81% a capacidade dos alunos em interpretar e utilizar gráficos matemáticos. 

O papel da tecnologia

Outro dado importante a respeito da tecnologia enquanto suporte pedagógico nas escolas veio de investigação da UNESP. Segundo a análise, ferramentas tecnológicas com fins pedagógicos são capazes de melhorar em até 32% o desempenho nas disciplinas de matemática e física.

A pesquisa, que transcorreu durante dois anos, comparou o desempenho de alunos de uma escola pública de Araraquara em aulas expositivas e em aulas com o apoio da tecnologia.

A visão de especialistas sobre o tema

Gabriela Diuana, gerente de transformação digital da Kroton, compartilha da visão de que os recursos tecnológicos com fins pedagógicos exercem um papel decisivo na educação contemporânea e na evolução dos processos de ensino e aprendizagem. 

Eu tenho convicção de que a tecnologia é indispensável no ambiente de ensino atual. Quando pensamos, por exemplo, nas competências socioemocionais, que agora fazem parte da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e em todas as mudanças de rotina e quebras de paradigma envolvendo professores e alunos dentro do contexto educacional, precisamos contar com recursos tecnológicos que nos auxiliem a trabalhar com esse novo volume de informações, desenhando metodologias de ensino compatíveis com este novo momento.” 

Com expectativa de abertura de 27 novas unidades de ensino em 2019 e mais 950 pólos de ensino a distância, de acordo com informações da Reuters divulgadas pelo Diário do Comércio, o Grupo Kroton tem investido de modo consistente na transformação digital de suas instituições, inclusive contando com parcerias com EdTechs e investindo na vertical de educação do Cubo, centro de empreendedorismo do Itaú. 

“Nós estamos acompanhando uma série de tendências, tanto voltadas para o ensino superior, quanto para a educação básica. A primeira delas é a Inteligência Artificial. No Grupo Kroton, nós já utilizamos de modo bem difundido o ensino adaptativo, que, por meio da IA, cria experiências personalizadas de aprendizagem, pois acreditamos que não adianta enviarmos o mesmo conteúdo para todas as pessoas, pois cada uma tem seu tempo e sua forma de aprender. Além disso, nosso grande desafio é aliar uma formação técnica de qualidade aos soft skills exigidos pelo mercado de trabalho, seja nosso aluno um futuro empreendedor ou colaborador de uma empresa”, complementa Gabriela.

EdTechs e a difusão da leitura

Dentro do mercado de EdTechs, uma série de iniciativas pode contribuir para a resolução de problemas de aprendizagem. É o caso, por exemplo, da Árvore de Livros, que oferece suporte pedagógico e uma plataforma de leitura digital para as escolas, solução esta com potencial para contribuir com a melhora nos níveis de leitura e interpretação dos alunos em todo o país.

De acordo com informações da startup, cerca de 100 mil estudantes do ensino fundamental e médio já foram impactados com a solução, que está presente em 350 escolas das redes pública e privada, 23 estados e mais de 150 cidades brasileiras.

Para João Leal, CEO da Árvore de Livros, a leitura tem potencial para contribuir com o desenvolvimento de toda uma gama de habilidades e de valores nos estudantes.

Há múltiplos benefícios advindos da leitura para a formação de cidadãos e para a vida das pessoas – ao internalizar histórias e experiências, temos uma mudança de comportamento e desenvolvemos uma série de aspectos socioemocionais importantes. Por sua vez, a leitura traz benefícios acadêmicos e escolares, melhora nosso vocabulário, nosso poder de argumentação, nossa capacidade interpretativa. Alunos que leem muito, aliás, costumam possuir maior facilidade para resolver problemas e analisar questões matemáticas”, comenta João.

Em reportagem do Jornal O Globo, tal visão é compartilhada por uma série de especialistas.

De acordo com a matéria, um dos principais entraves para a melhora nos níveis de aprendizagem de matemática, por exemplo, consiste na baixa capacidade dos alunos em interpretar e compreender textos.

A matéria ainda apresenta estudo da ONG Todos Pela Educação, no qual é constatado que os estudantes que têm melhor desempenho em redação, chegam mais próximo dos rendimentos considerados satisfatórios em matemática.

A necessidade de transformação cultural

Um dos principais problemas para uma maior difusão da leitura nas escolas envolve desde problemas de distribuição até a necessidade de transformação de uma cultura nacional pouco habituada à leitura.

Sobre o problema da distribuição, temos um dado alarmante: mais de 55% das escolas do país não possuem biblioteca ou sala de leitura, conforme levantamento do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. A Lei 12.244/10, por sua vez, determina que até maio de 2020, todas as escolas brasileiras – públicas e privadas – tenham bibliotecas escolares com um número de livros que corresponda, no mínimo, a um título para cada aluno matriculado. Para o CEO da Árvore de Livros, no entanto, ainda estamos distantes deste cenário.

Sobre os índices de leitura nacionais, não há dúvidas de que ainda precisamos evoluir muito para sermos considerado um país de leitores. João Leal, entretanto, acredita no potencial das novas tecnologias e no mercado de EdTechs como alternativas importantes para a reversão deste cenário e para a própria superação de problemas de aprendizagem comuns ao público discente do país.

“A tecnologia faz parte da vida dos alunos, estamos falando de nativos digitais, logo, se conseguirmos aproveitar parte desse tempo para que a gente impulse processos educacionais, teremos mais condições de solucionar problemas de aprendizagem. Além disso, a tecnologia permite que o professor siga por algumas rotas que o mundo offline não oferece. Nós temos, em nossa plataforma, uma série de relatórios de leitura que indicam para o professor o comportamento e a realidade dos níveis de leitura daquela escola ou daquela rede de ensino. É possível saber, por exemplo, se o aluno leu ou não um livro, em que dias leu, como foi sua dedicação. Tais dados podem contribuir, inclusive, para o redesenho do projeto pedagógico de uma escola, no plano de aula dos professores”, finaliza João Leal.  

Para concluir, é importante termos em mente que, ao falarmos de educação inclusiva e superação de problemas de aprendizagem, temos de levar em conta ainda os processos de ensino voltados para o população com deficiência, bem como o papel da tecnologia e das EdTechs na democratização de um ensino de qualidade no país.

Saiba o que os profissionais de grandes empresas e especialistas estão falando sobre o tema em entrevistas completas aqui

A startup brasileira Casa Cuca auxilia professores a identificar estudantes com problemas de aprendizagem, desde déficit de atenção até transtornos cognitivos. A startup é acelerada pela Artemisia, focada em negócios com viés social.

Tendo como base a inteligência artificial, a Educacross é uma plataforma que utiliza estratégias de gamification para promover a aprendizagem de matemática entre os estudantes do país. Em 2016 a startup entrou para o programa BizSpark, que conta com o apoio da Microsoft.

Com o objetivo de combater a distração e melhorar o engajamento dos estudantes em sala de aula, a americana Nearpod já captou mais de US$ 30 milhões, propondo um modelo que une conhecimentos pedagógicos, tecnologia e conteúdo relevante para transformar a educação.

A Poio é uma startup norueguesa que tem como principal objetivo, facilitar o processo de aprendizagem da leitura de crianças em idade escolar. Já captou mais de US$ 450 mil, com uma série de ferramentas digitais e um ambiente que torna divertida a jornada de conhecimento.  

Insights populares

1. Filmes de empreendedorismo: os 18 melhores filmes para se inspirar

Downloads

Artigo (7 páginas)  

Tópicos