12 de setembro de 2022 Artigos

Novos produtos: a ascensão dos mercados vegano e vegetariano

Nesse post, analisamos o crescimento do mercado vegano e vegetariano no Brasil e no mundo, e apresentamos novos produtos desenvolvidos por FoodTechs

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Enquanto outras formas de proteína como insetos, carnes produzidas em laboratório e as feitas a partir de vegetais ainda dão seus primeiros passos para implementação no Brasil, o mercado de produtos alternativos – vegetarianos e veganos – e relacionados ao bem estar, saudabilidade e/ou regimes alimentares cresce cada vez mais no país, abrindo grandes e diversas oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos alimentares e negócios.

Jeff Bezos e Bill Gates: entusiastas do mercado

Notícias recentes de suntuosos investimentos de bilionários conhecidos como Bill Gates e Jeff Bezos no mercado de alimentação têm chamado atenção para esses novos produtos, que normalmente são feitos a partir de ingredientes alternativos àqueles de origem animal. O presidente e CEO da Amazon, por exemplo, liderou a rodada de investimentos que resultou na captação de US$ 30 milhões pela NotCo, startup chilena fundada em 2015.

A empresa se utiliza de inteligência artificial para combinar produtos de base vegetal de forma a criar alimentos com textura, sabor e consistência iguais aos de origem. A startup, cujos produtos devem chegar ao Brasil ainda em 2019, possui um portfólio que inclui maioneses, iogurtes, queijos e sorvetes, todos 100% vegetais. 

Uma necessária proximidade ao consumidor

De acordo com o estudo Food & Beverage: 2019 Trends to Watch, 2019 é o ano em que as marcas vão precisar estar mais próximas dos consumidores, em que o aspecto de Saúde e Bem Estar é um dos principais temas a serem levados em consideração. Produtos proteicos feitos a partir de ervilha, castanhas e grãos são as grandes tendências dentro desse mercado.

Fora do Brasil, gigantes da indústria como General Mills, PepsiCo e KraftHeinz já se movimentaram, realizando investimentos e aquisições de startups focadas no negócio da proteína vegetal. Sendo assim, o CB Insights avalia que não só os substitutos à carne que estão disruptando a cadeia tradicional, mas também as alternativas de produtos que substituem outros nas refeições.

O forte movimento vegano e vegetariano

Um dos grandes motivos para que exista uma grande expectativa sobre esse mercado também no Brasil é, claramente, pela mudança de hábitos do consumidor e pela aderência a movimentos como o vegetarianismo e veganismo. Segundo pesquisa divulgada em 2018 pelo IBOPE, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), 14% da população brasileira se declara vegetariana, índice que chega aos 16% em regiões metropolitanas como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Curitiba.

Nessas áreas houve um crescimento de quase 100% desde 2012, quando 8% dos entrevistados se consideravam vegetarianos. Ou seja, é um mercado de aproximadamente 30 milhões de pessoas. Além disso, há de se esperar também um futuro próximo próspero dentro do segmento: 55% dos respondentes afirmaram que consumiriam mais produtos veganos se esses tivessem uma identificação mais clara ou o mesmo preço em relação aos que consomem tradicionalmente (60%), índice que alcança os 65% nas capitais.

Arte com informações sobre o interesse dos consumidores em produtos veganos.

A Mr.Veggy é uma empresa focada na produção e comercialização de congelados vegetarianos fundada em 2004, uma época em que pouco se falava em dietas vegetarianas, um cenário, consequentemente, de poucas opções àqueles que optavam por uma alimentação sem produtos de origem animal. De acordo com Mariana Falcão, CEO da companhia, esse é um mercado cada vez mais aquecido, com grande potencial de mudança cultural e perspectiva de expansão em rede.

“A empresa nasceu para atingir o público vegetariano estrito, que restringe quaisquer produtos de origem animal da sua direta, oferecendo alimentos saborosos, de qualidade. Existe um grande desafio de trazer mais pessoas para esse universo, porque existe uma cultura muito ligada à carne. Mas eu sinto que o mercado está contando com cada vez mais opções, a cadeia toda está se preocupando mais”, conta Falcão.

Segundo ela, esse estilo de vida ainda atinge apenas a uma bolha, uma pequena parte da população; sendo assim, existe uma grande oportunidade para que startups comecem a se posicionar mais claramente no mercado, de forma que estejam amadurecidas quando houver a expansão. 

Novos produtos para a ressocialização

Além dessa parte da população que opta por hábitos alimentares restritivos, existe também a parcela intolerante a alguns tipos de açúcar, como a lactose. Conforme informações de um levantamento do Datafolha, publicadas no Portal Viva Bem, 35% dos brasileiros – aproximadamente 53 milhões – acima dos 16 anos possui certa intolerância ao açúcar do leite; em âmbito mundial, 75% da população não tolera bem a lactose, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH). Entre os brasileiros, 34% dos que sofrem com a intolerância afirmam que deixam de consumir um alimento caso ele seja identificado como o responsável pelo problema. 

Seja ou não por opção do consumidor, dietas restritivas podem ser, de certa forma, obstáculos ao aspecto social da alimentação. Essa percepção é defendida por Marcelo Doin, CEO da NoMoo, startup que produz queijos a partir do leite de castanhas.

De acordo com ele, a partir do momento em que uma pessoa vegetariana corta derivados de leite e ovo da dieta, isso representa a “quebra” do último vínculo de socialização à mesa na hora das refeições, seja com amigos ou família.

“A partir do momento em que se adota a dieta vegetariana estrita, naturalmente se torna mais complicada a parte social da alimentação, porque as outras pessoas vão ter concepções e hábitos diferentes. A NoMoo nasceu dessa percepção, de uma necessidade de resgatar laços sociais, sem exclusão. Gastronomia é cultura e é triste pensar que existe uma parte da população que não pode consumir um alimento por uma questão de doença ou alergia”, diz Doin. 

Para o CEO da startup, a ascensão de tendências no mercado da alimentação fez com que muitos produtos fossem lançados no mercado, mas sem qualidade. Como as opções eram, até então, escassas, os consumidores se viam obrigados a absorver o que existia pois, caso contrário, não poderiam desfrutar de certos alimentos.

“Nós passamos um ano, entre 2015 e 2016, pesquisando sobre esse mercado no Brasil, fazendo testes com os consumidores nas feiras gastronômicas. Percebemos que havia um público muito grande e o nosso produto não agradava só os veganos. Atualmente, o nosso público principal é o focado em bem estar, preocupados com a saúde e com a funcionalidade do alimento, 88% deles não são veganos. A saudabilidade não é uma moda, é um caminho sem volta. A redução no consumo de alimentos de origem animal está acontecendo, e a indústria de laticínios, por exemplo, já sentiu a queda”, afirma ele.

Entre 2018 e 2019, a NoMoo registrou um crescimento de 70%.

A ascensão dos leites vegetais

De acordo com pesquisa realizada pela consultoria McKinsey, a mudança no comportamento do consumidor tem resultado em dificuldades para grandes empresas do setor de laticínios. No mercado americano, entre 2015 e 2018, foram registradas quedas nas vendas de queijo (-1,4%), leite (-4,9%) e iogurte (-2,3%). Enquanto isso, as vendas de bebidas à base de vegetais e castanhas em 2017 aumentaram 9%, que representam um total de US$ 141 milhões de crescimento.

Se considerarmos o market share, bebidas plant-based foram de 10%, em 2015, a 13% em 2018. Por fim, o estudo, realizado com 56 CEOs da indústria de laticínios, revelou que as empresas estão atentos a esses novos tipos de negócios e produtos: 51% deles acreditam no crescimento das novas concorrentes.

Criada em 2015 como uma spin-off da Amêndoas do Brasil – presente há mais de 25 anos no mercado brasileiro –, a A Tal da Castanha é uma scale-up que fabrica novos produtos a partir da castanha de caju e amêndoa, como leites saborizados, snacks e pastas. De maneira similar à NoMoo, busca oferecer ao mercado produtos de qualidade superior, mais saudáveis e mais naturais.

“Em linhas gerais, produtos como os nossos demandam muitos estabilizantes e conservantes e são preparados com muitos ingredientes. A nossa proposta é de um produto clean, com apenas dois ingredientes, é uma composição única, o mais natural possível. Seguindo nessa linha, lançamos, por exemplo, um shake proteico, que é feito com o leite de castanhas e polpa de frutas, também produzida por nós. Também temos trabalhado bastante em educar os consumidores, mostrar a vantagem de substituírem os alimentos e bebidas tradicionais pelos nossos, porque a ideia é atingir o público como um todo, não apenas os veganos, intolerantes e alérgicos ao leite”, contam Rodrigo e Felipe Carvalho, diretores d’A Tal da Castanha. 

De acordo com Rodrigo, posicionar a empresa era uma tarefa complicada em 2015, quando produtos desse tipo ainda estavam sendo introduzidos no mercado. Era difícil, inclusive, vender a ideia para o varejo, que pouco enfrentava esse tipo de demanda. Atualmente, enxerga uma tendência global de balanço das dietas e procura por alimentos de origem vegetal.

“Hoje é uma ideia muito mais disseminada, as pessoas já sabem do que se trata. É perceptível a mudança, por exemplo, em supermercados, que repensam o layout das lojas e conferem uma maior participação de áreas destinadas a produtos saudáveis e buscam ter um maior mix nessa categoria. Existem corredores especiais, só para isso”, finaliza. Nos últimos dois anos, a empresa cresceu 250% e, excluindo a categoria de produtos feitos à base de soja, são líderes no segmento de leites vegetais.

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A Hakkuna é uma startup brasileira que realiza o cultivo de grilos para a produção de snacks, barras de cereais e farinha proteica, que pode ser utilizada como ingrediente de outros alimentos, como bolos, pães e biscoitos.

A startup Behind the Foods, fundada em São Paulo, produz carnes plant-based, utilizando-se de inteligência artificial e ingredientes como ervilhas, batatas konjac, fécula de batata, proteína isolada de soja e outros. A expectativa é que lance seus produtos no mercado ainda em 2019.

A Hargol é uma startup israelense, que cultiva gafanhotos para a produção de uma farinha com 70% de conteúdo proteico e rica em aminoácidos. A empresa desenvolveu um sistema de criação que diminuiu o tempo de incubação de ovos de 40 semanas para entre 2 e 4 semanas. Recebeu, até o momento, US$ 2,5 milhões em investimentos.

A israelense SuperMeat, fundada em 2015, se juntou à indústria de carnes e companhias farmacêuticas para desenvolver produtos clean-meat, similares à proteína animal, tornando desnecessária a criação de gado. Captou, desde sua criação, mais de US$ 4 milhões em investimentos.

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