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Proteínas alternativas: um mercado crescente no Brasil e no mundo

proteína alternativa

Pensar em alternativas à proteína tradicional de origem animal não é apenas uma tendência global de alimentação, mas uma necessidade praticamente de sobrevivência. Com a expectativa de a população mundial atingir, em 2050, a casa dos 9.8 bilhões de pessoas, é estimado pela ONU que seja necessário aumentar em 70% a produção de proteínas para corresponder à demanda esperada, e de maneira que não prejudique ainda mais o meio ambiente.

Impactos negativos da pecuária no meio ambiente

Além de ser responsável por emissão de altas quantidades de gases do efeito estufa, a pecuária impulsiona o desmatamento para o cultivo de pasto e consome aproximadamente sete mil litros de água para produzir apenas 500 gramas de carne, de acordo com matéria d’O Globo, baseada em informações de um estudo britânico.

Os obstáculos para que haja uma virada de cenário, no entanto, não são simples. Apesar do aumento no número de vegetarianos e veganos entre a população mundial, a carne ainda é poderosa como um rei, de acordo com o CB Insights. Segundo estimativas, 30% das calorias consumidas mundialmente pelos humanos são representadas por proteína animal, que inclui principalmente a carne bovina, frango e porco.

Além disso, a média de consumo desse tipo de proteína é de aproximadamente 43kg por pessoa, anualmente. Para atender a essa demanda, que deve crescer na próxima década, não há garantia de que a indústria se utilize de métodos sustentáveis de produção.

Maior pressão por parte dos consumidores, mais conscientizados e informados

Isso surge como um grande desafio para as empresas do segmento, que agora enxergam um público muito mais conscientizado, informado e fiscalizador. Existe, portanto, uma pressão social e internacional para que os modelos e processos de produção se alterem ou, então, que se encontrem alternativas. Uma delas, apesar de todo o tabu que carrega consigo, é o consumo de insetos.

Já em 2014, cinco anos atrás, um relatório divulgado pela ONU já defendia essa prática como um dos caminhos para a erradicação da fome no mundo, cuja produção é mais sustentável: enquanto o gado precisa de 8kg de comida para produzir 1kg, os insetos precisam de apenas 2kg.

Os insetos como opção de proteína

De acordo com uma pesquisa sobre insetos comestíveis da Arcluster, consultoria de Singapura que estuda tendências, cujos dados foram publicados em parte no portal ComCiência, o mercado de insetos é promissor no setor de alimentação, com expectativas de que atinja um valor de US$ 1.52 bilhão em 2023.

Conforme o relatório, o número de consumidores desses produtos, já na casa dos dois bilhões, cresce cada vez mais, impactado pela busca por uma alimentação mais natural e saudável, já que os insetos são uma boa fonte de proteínas e minerais.

A procura por uma alternativa mais natural e rica em proteínas foi justamente o motivo da criação da Hakkuna, startup brasileira que produz alimentos à base de grilos, como farinha proteica, barra de cereais e snacks. De acordo com Luiz Filipe Carvalho, fundador da empresa, iniciativa surgiu a partir de uma necessidade pessoal, que conta também com aspectos de sustentabilidade e diminuição dos impactos do consumo no meio ambiente.

“Na época eu estava procurando por uma opção proteica prática, mais saudável, de boa qualidade, sem ingredientes químicos. Acabei encontrando algumas empresas de fora, em 2014, que estavam lançando produtos à base de grilos. Os insetos em geral, além de serem muito nutritivos, compostos por 70% de proteína e outras vitaminas, são muito sustentáveis se comparados com a produção de carne bovina”, conta Carvalho.

Segundo ele, esse tipo de ingrediente também é uma opção interessante por conta da sua versatilidade. A farinha, por exemplo, pode ser uma substituta à farinha vegetal e servir de base para outros produtos, como pães, massas e biscoitos.

No entanto, de acordo com Carvalho, a iniciativa ainda dá seus primeiros passos no Brasil, já que são poucos os produtores, e trazer a matéria-prima de outros países é um processo de alto custo. Além disso, muito do que é produzido internamente ainda é voltado para a alimentação animal. No atual momento, a Hakkuna tem a pretensão de trabalhar externamente em um modelo B2B e, internamente, em um modelo B2C, com a perspectiva de entregar cinco mil barrinhas de cereais ao mercado em um futuro próximo.

Mas, para que isso vire uma realidade de fato no Brasil, ainda existe um grande obstáculo: a regulação. De acordo com informações publicadas no portal ComCiência, atualmente a Anvisa só discute aspectos sanitários do produto, como a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) nº14, de 2014, que limita uma quantidade de matérias estranhas em alimentos, categoria na qual estão inclusos os insetos.

Criada em 2015, a Abrasci (Associação Brasileira dos Criadores de Insetos), constituída de criadores e pesquisadores do tema, trabalha para que os insetos sejam reconhecidos como alimentos, sob normas de produção, comercialização e fiscalização.

As proteínas alternativas: produzidas em laboratório e plant-based

Outra tendência, que já é realidade no exterior, mas ainda muito incipiente no Brasil, é a carne produzida em laboratório, a partir de células animais, conhecida como clean meat. Além disso, também existem as proteínas que imitam a carne, feitas a partir de vegetais (chamadas de plant-based): fibras, lipídios e proteínas são retirados de plantas e reconectados na mesma forma da estrutura molecular da carne animal.

Nos EUA a Memphis Meats, startup que se encaixa na primeira categoria descrita, já recebeu mais de US$ 20 milhões em investimentos, tendo, entre seus investidores, Bill Gates, fundador da gigante Microsoft, e a Tyson, uma das maiores empresas produtoras de carnes no mundo. Por sua vez, a Impossible Foods e a Beyond Meat, startups de produção plant-based, já captaram mais de US$ 387,5 milhões e US$ 122 milhões, respectivamente, conforme dados do Crunchbase.

No Brasil, o GFI (The Good Food Institute) é uma ONG com o objetivo de estimular o mercado de proteínas alternativas aos ingredientes de origem animal, fazendo parte de um movimento de inovação da indústria. Sendo assim, além de outros campos de atuação, trabalha junto a empresas do setor para direcioná-las meio a esse cenário de evolução e disrupção.

O instituto, uma organização americana, possui operações, além da brasileira, na Índia, Europa, região da Ásia-Pacífico e Israel. De acordo com Gustavo Guadagnini, Managing Director do GFI, o desafio de alimentar cada vez mais pessoas de forma produtiva e sustentável é e precisa ser o principal motivo para que as empresas, principalmente desse setor, repensem seus modelos de produção e incentivem as iniciativas que estão aparecendo.

“O principal tema hoje que une inovação e alimentação é sobre essa necessidade de alimentar quase dez bilhões de pessoas no mundo daqui a 30 anos. Atualmente, o que causa a improdutividade do sistema de alimentos é o fato de que grande parte do que é plantado serve para a alimentação de gado, que depois vira alimento uma vez só. Sem contar toda a parte relativa ao meio ambiente, porque a pecuária colabora muito negativamente para o aquecimento global. Uma das análises sobre o Acordo de Paris (documento assinado por 195 países para reduzir a emissão de gases relacionados ao efeito estufa) é que é impossível alcançar as metas estipuladas sem diminuir a atividade desse setor”, diz Guadagnini.

Além de atuar de forma próxima à indústria de alimentos, a GFI também oferece suporte a startups que possuam o negócio focado em produtos substitutos ao mercado de leite, carne e ovos, conectando pesquisadores, cientistas e empreendedores que atuam no meio.

Iniciativas nacionais e internacionais e os consequentes desafio de mercado

Um exemplo de startup brasileira que atua nesse mercado é a Biomimetic, fundada em 2016, com foco na produção de biomateriais. Atualmente, a empresa produz o chamado scaffold, material que serve de insumo para a produção da carne de laboratório, possibilitando um cultivo celular em 3D que, por sua vez, possibilita a criação das carnes estruturadas, ou seja, em formato de filés – almôndegas, hambúrgueres e embutidos se encaixam na categoria de desestruturadas.

Um outro grande desafio – e que aos poucos está sendo superado – é o alto custo de produção desses alimentos. Em 2013, segundo matéria do The Guardian, o cientista Mark Post, da Universidade de Maastricht (Holanda), apresentou os resultados do que seria o primeiro hambúrguer criado em laboratório, por meio de células bovinas – sem o abate de nenhum animal, gasto de energia 70% menor do que utilizado no método tradicional e utilização de 90% menos água e terreno.

O aspecto desfavorável disso tudo, no entanto, é o preço. O projeto inteiro, desde seu início até a produção final, que resultou em uma unidade do hambúrguer, custou €250 mil, aproximadamente R$ 1,5 milhão. Além disso, produtos plant-based, como os produzidos pela Beyond Meat, também possuem preços ainda pouco acessíveis: 1kg da proteína que imita a carne de frango custa, aproximadamente, 500 reais. Um quilo de frango custa, em média, entre dez e quinze reais no Brasil. Para Guadagnini, novas iniciativas podem ajudar a dar mais velocidade a uma eventual implementação desses alimentos no mercado.

“Os produtos já existem, esse é o primeiro passo, falta chegar no custo. A taxa de queda está muito boa. Acredita-se que em cinco anos os produtos vão estar no mercado de forma consistente, e em dez com paridade de custos. Acho que as startups podem ser muito úteis para abrir mais o mercado, empresas pequenas conseguem testar e lançar novos produtos mais rapidamente. As grandes corporações podem se beneficiar dessa agilidade de teste”, finaliza.

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A NoMoo é uma Food Tech brasileira, do Rio de Janeiro, que produz queijos e iogurtes a partir da castanha de caju, aplicando tecnologia à produção de alimentos.

A Tal da Castanha é um spin-off da Amêndoas do Brasil, e produz leites saborizados naturais e veganos, a partir da castanha de caju e amêndoas. Também oferece ao mercado shakes proteicos, snacks naturais e pastas alimentares.

A chilena NotCo desenvolve produtos veganos, como maionese e queijos, à base de vegetais, por meio de inteligência artificial. O software criado pela startup combina alimentos e ingredientes de forma a criar produtos cujo sabor e textura se aproximem dos tradicionais. Em 2019, recebeu US$ 30 milhões em investimentos.

A startup israelense INDI desenvolveu um leite análogo ao materno, de origem vegetal, sem soja, com composição saudável, nutritiva, sustentável, a partir da transformação e combinação tecnológica de duas plantas.