12 de setembro de 2022 Artigos

Desviando dos gargalos financeiros: a tecnologia e a melhoria da gestão de custos nas empresas de logística

Conheça soluções que estão auxiliando empresas da área logística a superar gargalos financeiros e desafios no âmbito da gestão de custos

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A área logística está iniciando um importante processo de transformação digital. Se, há não muito tempo, a gestão da cadeia de supply chain contava com um modelo operacional mais arcaico, atualmente, a inovação já é tratada como um elemento indispensável para a maturidade da logística 4.0. E um dos fatores de maior impacto para a corrida tecnológica das empresas é a busca por maior eficiência, incluindo uma gestão de custos mais inteligente.

Um estudo recente da PwC indica, por exemplo, que a entrada de novas tecnologias baseadas em data analytics, automação e ‘internet física’ na indústria logística tem potencial para reduzir custos, aumentar a eficiência e quebrar paradigmas no modo como as empresas gerenciam, hoje, suas operações. 

Os eixos da redução de gargalos na gestão de custos

A busca por maior eficiência e consequente redução de gargalos financeiros na cadeia logística, vale salientar, passa, ao menos, por dois eixos fundamentais: a melhoria na gestão dos fluxos físico (que envolve a aquisição de mercadorias/matéria-prima, os controles de estoque/gestão de armazéns e a venda dos produtos finais) e de informações; além de um maior controle com os custos de frotas e de transporte – manutenções, combustível e durabilidade dos ativos. 

Sobre o primeiro ponto, o professor e especialista em logística e gestão de supply chain, Francisco Ferraes Neto, em artigo recente para a revista da FAE Business School, aponta que “ao se obter maior acerto na realização do fluxo físico, o volume de vendas, o giro de estoques e a disponibilidade de produtos aos clientes serão majorados. Estes valores permitem aumentar a receita e o lucro”.

Para tanto, Ferraes Neto indica que é fundamental que haja uma integração do fluxo de dados das empresas com o fluxo físico, de modo a se “racionalizar a utilização de recursos e otimizar o desempenho do sistema (logístico das empresas)”.

A Cobli, Logtech de São Paulo, por sua vez, investe no poder da inteligência artificial e dos dados para melhorar o controle de custos das empresas, por meio de uma solução que fornece desde o desenho das melhores rotas para as transportadoras até a análise do comportamento do motorista para a redução de gastos com combustíveis.

“A Cobli atua em diversas frentes. No desenho da rota perfeita; no planejamento para a distribuição do serviço; na adaptação de rotas em caso de quebra, mudança de tempo ou atrasos. Com isso, nossos clientes têm uma redução média de 27% dos KMs dirigidos e 25% do tempo para realizar os mesmos serviços. Isso permite que o mesmo time atenda cada vez mais clientes, aumentando o potencial de eficiência financeira das empresas. Além disso, com o monitoramento do comportamento de condução, conseguimos reduzir de 15 a 20% o consumo de combustíveis e diminuir o número de manutenções. Com tudo isso aplicado, temos cases de redução de custos superiores à R$ 1.000 por veículo/mês, permitindo que as frotas entreguem um serviço cada vez melhor por um preço justo”, explica Rodrigo Mourad, sócio e diretor de operações da Cobli. 

O potencial dos sistemas WMS

Outro aspecto de inovação que está crescendo no mercado e pode contribuir com uma maior eficiência financeira para as empresas de logística engloba as tecnologias de gestão de armazéns (WMS – Warehouse Management System) que unem o potencial da coleta e análise de dados, com a gestão completa dos fluxos de estoque dentro dos armazéns.

No Brasil, a startup de Santa Catarina, Loginfo, vem ganhando destaque no mercado, por meio de uma plataforma que, dentre outras soluções, oferece um WMS customizável, web e com acesso mobile para as empresas.

A ideia da startup é, justamente, prover uma infraestrutura tecnológica capaz de reduzir os custos operacionais no controle dos armazéns das organizações do país. De modo global, o mercado de soluções de WMS atingiu US$ 2,1 bilhões em 2018, podendo chegar a quase US$ 5 bilhões em investimentos até 2024 – um índice de crescimento superior a 15% no ciclo, de acordo com estimativa da Market and Markets.

Falando em redução de custos operacionais, temos de pensar, também, no controle de desperdícios e na potencialização de fatores como a eficiência energética. Este é um ponto especialmente preocupante no Brasil. Em um ranking de 2018 do American Council for an Energy-Efficient Economy, o Brasil aparece em 20º, em uma lista de 25 países que reúne grandes economias e seus esforços em prol da eficiência energética.

Está gostando da matéria? Então aproveite para conhecer um projeto da Drogaria Venancio que promete revolucionar as entregas urbanas ao longo dos próximos anos. Wallace Siffert, diretor comercial da empresa comenta o case:

Conhecemos a MyView no início de 2019 quando nos foi apresentado o projeto MyView D4, que vinha sendo elaborado desde 2018. Nós ouvimos a ideia e resolvemos mergulhar de cabeça. Além do ineditismo da ação, ao longo dos últimos anos, a nossa empresa vem buscando, cada vez mais, parcerias inovadoras e tecnologias diferenciadas.

Ficamos muito felizes com o resultado. A MyView é uma empresa com know-how nesta tecnologia e executar entregas por drones é um de nossos projetos da área de inovação. Sempre prezamos pela excelência no atendimento, agilidade na entrega e comodidade para nossos clientes. A parceria tem tudo para dar certo no futuro, porém, atualmente, o serviço encontra-se em fase de testes.

Além da tecnologia agilizar a entrega, ela também otimiza os processos, mas vale lembrar que os avanços tecnológicos não substituem o capital humano, pelo contrário, eles capacitam ainda mais os profissionais, para que possam crescer e usufruir de novas ferramentas.

A corrida pela eficiência energética

Para transformar este cenário, startups e grandes empresas como a Eaton, tem investido no desenvolvimento de soluções capazes de identificar e reverter o desperdício energético nas grandes empresas. É o que explica Mirela Scarazzatti, gerente de processos materiais e inventário na Eaton. 

“O conceito de eficiência energética pode ser aplicado de diversas maneiras em uma cadeia logística. Projetos voltados para otimização de iluminação fabril, incluindo a substituição de tecnologias, podem ser aplicados nos armazéns e nos centros de distribuição, por exemplo. Dentro deste contexto, a Eaton conta com um segmento voltado para o setor elétrico e trabalha com projetos sob demanda nesse segmento também”, explica Scarazzatti.

A Eaton conta também, segundo a executiva, com produtos cuja tecnologia garante a melhor produtividade dos veículos, contribuindo para a redução de consumo de combustíveis em veículos, favorecendo assim,  seus clientes diretos (montadoras e distribuidoras) e até o cliente final, que possui frotas equipadas com produtos Eaton, como boa parte das transportadoras do mercado.

O aumento da busca por eficiência logística por parte das empresas é justificado. Segundo estudo da Fundação Dom Cabral, os gastos com logística consomem mais de 12% do faturamento das organizações no Brasil – o valor é superior em R$ 15,5 bilhões à estimativa anterior de 2015.

 Boa parte destes custos, vale reforçar, envolvem gastos com manutenção de frotas e combustível – daí a importância de um controle otimizado dos custos de frotas e de transporte na área de logística.

Tal custo, como vimos anteriormente, é potencializado pela baixa qualidade da infraestrutura nacional, especialmente no modal rodoviário, bem como, pelo alto índice de congestionamentos no país.

Dados e eficiência na gestão de custos

Para auxiliar as empresas a aumentar a eficiência neste plano da gestão de custos com manutenções, aumentando a previsibilidade orçamentária das organizações, a SUIV, startup fundada em 2015, conta com um sistema que unifica diversas fontes de informação (catálogos de montadoras, dados públicos e de fornecedoras) permitindo uma projeção mais assertiva de custos para as empresas. É o que explica Maximiliano Porta, CEO e cofundador da startup.

“A SUIV é um big data que reúne dados advindos de diversas fontes de informação. Construímos essa base de dados e linkamos todas as informações por meio da placa veicular. Ou seja: o cliente precisa conhecer apenas a placa do veículo para ter à disposição o catálogo de peças, o código da peça, o preço, tabela de mão de obra, dentre outra série de dados. No plano da gestão de custos, a grande contribuição que a SUIV oferece é a disponibilização de um catálogo de peças, no qual informamos o padrão do mercado automotivo e o comportamento do preço das peças, considerando a variação inflacionária do preço praticado pela montadora na rede de concessionária”, explica Porta.

Sobre o potencial da aplicação do big data no mercado de gestão de supply chain, merece destaque o fato de que, nos próximos 5 anos, nenhuma indústria dará tanta importância para a aplicação e análise de dados quanto às áreas de transporte e de logística, conforme aponta pesquisa da PwC, anteriormente citada.

Participante do 2º ciclo de aceleração da Liga AutoTech, promovido pela Liga Ventures em parceria com grandes empresas do setor, a SUIV projeta um faturamento de R$ 1,3 milhões para 2019.

Segundo Maximiliano Porta, um dos principais desafios no âmbito do planejamento financeiro e orçamentário das empresas de logística, em especial das transportadoras, envolve uma maior agilidade para o acesso às informações sobre os custos envolvidos na reposição de peças veiculares.

“O principal desafio hoje é você ter uma informação disponível para a tomada de decisão. Para tanto, é preciso que as empresas invistam em ter dados digitalizados. Para um cliente que tem 10 modelos de 10 montadoras diferentes na sua base, ele vai ter de acessar de 12 a 15 fontes de dados diferentes para poder fazer a gestão veicular. O que a SUIV traz? Ele passar a ter uma única interface de acesso, em uma única plataforma de dados”, conclui Porta.

Thiago Calvet, fundador e CEO da MyView comenta o case de entregas por drones com a Drogaria Venancio:

Realizamos a primeira entrega por drone do Brasil em parceria com a Drogaria Venancio e o Leite de Rosas. Foi uma entrega comercial pois houve, de fato, a compra do produto via app da Venancio – lançado junto com a entrega – a retirada na loja e a entrega na casa da cliente. 

Fizemos todo um estudo da área e um planejamento em virtude da legislação. O voo foi feito dentro das regras atuais – não perdemos a linha de visada; durante a operação também havia um piloto em comando monitorando o drone automatizado. A aeronave tinha registro da ANAC, cadastro na ANATEL, seguro e autorização do DECEA.

Fizemos um comparativo de entrega com um motoboy. O tempo de entrega pelo motoboy, só contando o trajeto e sem considerar a espera para localizar o profissional e retirada do produto, foi de treze minutos. Com o drone, conseguimos realizar a entrega em 3 minutos, em uma velocidade controlada e baixa. Estamos falando de um ganho muito significativo, sobretudo no last mile.[/toggle]

Os desafios de distribuição

Seguindo linha de raciocínio semelhante, Mirela Scarazzatti, da Eaton, destaca os desafios de distribuição e a necessidade de planejamento para a redução do lead-time de entregas no mercado de reparos automotivos.

“Os principais desafios para a reposição de peças automotivas são a disponibilidade e agilidade nas entregas, pois o mercado de reposição é extremamente sensível à disponibilidade imediata. Dentro desse contexto, faz -se necessário um bom planejamento de estoques e uma estratégia adequada de distribuição. Aqui na Eaton estamos buscando constantemente melhorias no planejamento de materiais com análises estatísticas, do comportamento do mercado e estratégias junto com as transportadoras para entender a malha logística e otimizar a distribuição”, conclui Scarazzatti.

Com soluções que vão desde transmissões automatizadas para o controle de combustíveis em veículos, uma linha completa para o mercado de reposição e sistemas de gerenciamento energético, a Eaton atua globalmente no desenvolvimento de tecnologias para uma maior eficiência nos setores elétrico, hidráulico, de veículos e aeroespacial.

Danilo Zeller, especialista em logística da Continental, aponta, por sua vez, que para uma redução mais macro dos custos no segmento logístico brasileiro, é importante que haja um maior incentivo ao desenvolvimento de fornecedores locais, melhorando a integração da cadeia de supply chain e favorecendo o fortalecimento do mercado interno.

“Na parte de desenvolvimento de fornecedor local, a obtenção de tecnologias mais acessíveis, mais baratas localmente, estimularia mais a indústria logística como um todo, afinal de contas, os custos com a aquisição de insumos importados e com a própria distribuição nos estados brasileiros – muito extensos geograficamente – é muito alto. A Europa, por exemplo, que tem um mercado altamente tecnológico, conta com muitos fornecedores locais, em virtude disso, você acaba tendo uma cadeia muito mais enxuta. Tudo isso, sem sombra de dúvidas, favorece demais o mercado do interno dos países que adotam este modelo”, explica Zeller.

Mas o que fazer dentro de ambientes logísticos que não contam, ainda, com uma maturidade em termos de integração e desenvolvimento de fornecedores locais? Para Zeller, a resposta envolve planejamento e aplicação de inteligência estratégica.

“Nós temos uma série de estratégias voltadas para a redução do custo variável dentro da planta. Para tanto, a Continental faz um planejamento estratégico todo final do ano, baseado em diversos projetos internos, todos focados em redução de custo e inteligência operacional. O objetivo é aumentar nossa eficiência financeira e distribuir isso para a cadeia logística do país, de modo a tornar o nosso produto mais competitivo dentro do mercado nacional”, explica Zeller.

Além destes fatores, como vimos ao longo deste estudo, a inovação tende a assumir, cada vez mais, um papel decisivo para as empresas que desejam aumentar sua eficiência, inclusive financeira, dentro do mercado de logística. É o que aponta Rodrigo Mourad, sócio da Cobli.

“É impressionante ver a criatividade e a habilidade que as empresas tiveram nos últimos anos para resolverem problemas complexos com pouca tecnologia. Mas o momento agora é de se modernizar, evoluir e começar um novo tipo de operação logística. As empresas que começarem antes, colherão os benefícios e as vantagens da inovação por mais tempo. Por isso, temos visto cada vez mais pressa na modernização. Dentro deste contexto, é importante estruturar bem o processo de implementação e o foco do time para que as empresas tenham sucesso ao lidar com novas tecnologias”, sintetiza Mourad.

Saiba o que os profissionais de grandes empresas e especialistas estão falando sobre o tema em entrevistas completas aqui

dLieve

A dLieve conta com um sistema amplo para a gestão de entregas e coletas que realiza também a otimização de rotas e a leitura de código de barras de produtos. A startup paulistana foi listada como uma das Top 100 Open Startups de 2018 e tem o apoio da Bossanova e da BMG.

MyTracking

A MyTracking é uma solução de torre de controle para a gestão de indicadores, relatórios, posicionamento de veículos, entregas e coletas. A ferramenta foi desenvolvida pela startup Point Sistemas, fundada em 2013 e com clientes como Avon, Ricardo Eletro e Eletro Shopping.

Eyefreight

A Eyefreight é uma startup que oferece um TMS e uma torre de controle que integra transportadores e oferece uma visão completa de uma cadeia de transportes. Fundada nos Estados Unidos, já recebeu € 9 milhões em investimentos.

MPO

A MPO Customer Center Control é uma startup holandesa que oferece uma torre de controle focada na geração de dados em tempo real e no suporte para a tomada de decisões de na cadeia logística. Conta com clientes como Microsoft, eBay e 3M e já recebeu US$ 10 milhões em investimentos.

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