Luciano Cunha, Coordenador-geral de Tecnologias Inovadoras e Propriedade Intelectual do Ministério da Economia, foi um dos entrevistados para o estudo Liga Insights Indústria 4.0, lançado em fevereiro de 2020. Durante a entrevista, ele comentou sobre os desafios para a expansão da indústria 4.0 no Brasil.
O estudo completo está disponível para download neste link.
O Ministério da Economia é o órgão responsável pela política econômica nacional. Atualmente, o ministro responsável pela pasta é o economista Paulo Guedes.
Liga Insights (LI) – É possível dizer que o setor industrial brasileiro é aberto à inovação?
Luciano Cunha (LC) – O Brasil é um país muito grande, com realidades muito diversas. Em média, a adoção de conceitos e soluções tecnológicas é baixa e há, inclusive, uma falta de conhecimento sobre o potencial das novas tecnologias. Ao mesmo tempo, existem grupos de empresas muito avançadas, que estão competitivas mundialmente, e que têm uma característica de ter rapidez e intensidade na adoção de tecnologia. No entanto, representam um número pequeno em relação à média do País.
LI – Qual a importância de sensorização e Internet das Coisas no contexto de Indústria 4.0?
LC – São essenciais. A Indústria 4.0 demanda a necessidade da sensorização para a coleta de dados, para tratá-los, analisá-los e tomar, a partir disso, decisões de forma automatizada. A sensorização já existente nos equipamentos ou que venha a ser implementada é um passo básico nesse processo.
LI – Como fazer com que essas tecnologias e inovação em geral cheguem nas PMEs?
LC – Existe um conjunto de ações que são necessárias. Recentemente, trabalhamos junto ao MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), para conseguir aprovar o projeto de lei que alterava a Lei Geral de Telecomunicações; um dos propósitos era reduzir o custo para equipamentos de IoT, já que algumas das taxas cobradas inviabilizam sistemas de mais baixo custo. Além disso, em uma reunião com a FUNTTEL (Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações), aprovamos recursos tanto para o BNDES quanto para a FINEP para financiamento de projetos a juros mais competitivos para IoT e para Indústria 4.0, como uma tentativa para facilitar essa adoção. Também temos realizado trabalhos mais diretos com as pequenas empresas, como por meio do programa Brasil Mais Produtivo, e pela parceria com o Estado de SP para apoiar empresas nesse processo. É um conjunto grande de iniciativas que passam desde melhorar a regulamentação para simplificar, até financiamentos a custos mais acessíveis. Por fim, existe uma questão sobre a própria divulgação da tecnologia e dos potenciais que ela traz e do conhecimento de que nem sempre essas tecnologias são caras e inacessíveis. A partir do diálogo com PMEs, a percepção é a de que empresas pequenas acreditam que novas tecnologias estão fora do escopo, fora da possibilidade delas. Um dos empecilhos é comunicar e mostrar que essas tecnologias têm, sim, possibilidade de serem adotadas em escala menor e como algo positivo.
LI – Quais são os grandes desafios para fomentar inovação no setor da indústria?
LC – É uma soma de fatores. Existe, por exemplo, desafios de infraestrutura, regiões com cobertura de sinal de celular, internet e redes específicas para IoT bastante razoáveis, e outras com cobertura ínfima. Existe também um desafio relacionado ao nível educacional dos gestores de empresas menores. Muitos profissionais não têm ainda capacitação para compreender novas tecnologias. Nesse piloto com o Estado de São Paulo, um trabalho em conjunto também com o Fórum Econômico Mundial, identificamos entre os principais problemas a questão da gestão da empresa e a falta de pessoas com tempo dedicado a adotar e estudar novas tecnologias.
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