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As oportunidades para negócios de impacto social

pessoas trabalhando em oportunidades para negócio de impacto

Apesar dos desafios existentes e inerentes ao empreendedorismo de impacto no Brasil – discutidos neste outro artigo –, o atual cenário brasileiro apresenta muitas oportunidades para atuação, crescimento e evolução. Claramente, muito ainda há de ser feito para que o terreno seja frutífero, mas os primeiros e fundamentais passos estão sendo dados.

Mais do que por meio de análises e previsões, uma amostra de que o mercado tem se aquecido muito nos últimos anos pode ser claramente representada por números. Em 2019, a Pipe Social – uma plataforma-vitrine de conexão entre negócios de impacto e investidores e fomentadores dentro do ecossistema de impacto – realizou o 2º Mapa de Negócios de Impacto, com informações atualizadas em relação ao primeiro estudo, realizado em 2017. No mais recente, foram mapeados 1002 negócios (dentro de um contexto mais amplo, não apenas startups), número 73% maior em relação ao registrado na edição anterior (579). 

Dentro de um segmento como esse, ainda em estágio de desenvolvimento, a disseminação de informações que entreguem um panorama e confiram transparência ao setor é, talvez, um dos pontos mais importantes no atual cenário. De acordo com Mariana Fonseca, CEO e Cofundadora da Pipe Social, os serviços e produtos oferecidos entregam valor para o mercado como um todo, mas são de grande ajuda especificamente para os empreendedores.

“Atualmente, é como se fôssemos uma espécie de IBGE do setor. Não havia um banco vivo de dados, transparência sobre os negócios, com base de comparação para os próprios empreendedores de impacto. A Pipe cresce junto com o mercado, porque nosso banco de dados fica mais rico também. Mostrar que tudo isso existe e que está acontecendo ajuda os empreendedores a se encontrarem, entenderem o que são com mais clareza e onde se encaixam. Um negócio localizado em uma cidade pequena, pouco representativa no ecossistema, pode ser visto nacionalmente ou eventualmente fazer negócios com uma corporação gigante. É uma entrega de valor bastante interessante”, afirma Fonseca.

O interesse das grandes corporações pelos negócios de impacto

Como bem apresentado em um post publicado no site da Kaleydos, outro indicativo interessante do crescimento de maturidade desse mercado é o crescimento da quantidade de organizações que apoiaram a realização do mapeamento, número que saltou de 40 na primeira edição para 55 na segunda. O Itaú Unibanco, como exemplo de grande corporação interessada, foi patrocinador de ambos os estudos.

A aproximação entre grandes empresas e negócios de impacto também é um fator que pode favorecer e facilitar a evolução e florescimento desse mercado. Cada vez mais se torna mandatório às corporações que elas estejam cientes dos impactos que causam social e ambientalmente e consigam, de uma forma ou de outra, mitigá-los ao longo do tempo.

Algumas das iniciativas criadas por essas empresas são e serão feitas internamente, resultantes de percepções quase óbvias de que muito daquilo que fazia e faz parte do status quo precisa ser mudado. Gigantes como Cisco, Target e McKinsey, por exemplo, têm realizado e divulgado suas ações, algo bastante importante dentro de um contexto em que nenhuma marca quer ser deixada para trás, ou seja, o posicionamento de uma pode, como consequência, puxar ações por parte de outras.

E também porque o modo de consumo mudou. Muito mais atentos e informados em comparação aos de outras gerações, os consumidores no contexto atual querem conhecer de fato as empresas das quais consomem produtos e serviços, desejam saber sua origem e as consequências geradas em todo o processo. E isso é ainda mais importante quando se fala dos consumidores brasileiros.

A preferência dos clientes por marcas que geram impacto positivo: uma oportunidade para negócios de impacto

Segundo um estudo realizado pela Unilever, a tendência do consumo orientado por propósito é ainda mais forte entre consumidores de economias emergentes do que naquelas já desenvolvidas. No Reino Unido, 53% dos consumidores afirmam que se sentem melhor quando compram produtos fabricados de forma sustentável, índice que alcança 78% nos Estados Unidos, 85% no Brasil e 88% na Índia. Além disso, em âmbito global, 33% dos consumidores já estão escolhendo marcas que em sua percepção estão gerando impacto positivo em âmbito social ou ambiental. Em valores, estima-se que a oportunidade existente para as empresas que deixem claros seus princípios de sustentabilidade é de €966 bilhões. 

Resultados de uma outra pesquisa, realizada no Brasil em 2019 pela OpinionBox, vão ao encontro das informações presentes no estudo da Unilever. De acordo com essa – que contou com 2065 internautas de todos os estados brasileiros –, 33% dos entrevistados afirmaram se preocupar muito com práticas sustentáveis de uma empresa no momento de compra de um produto e 53% se preocupam um pouco; apenas 9% afirmaram que não veem isso como uma preocupação. Ainda, 55% contaram que sempre ou frequentemente preferem marcas reconhecidas por se preocuparem com o meio ambiente e 42% buscam informações para saber se a companhia em questão adota práticas conscientes ambientalmente. 

Como tem acontecido em alguns outros segmentos – realidade que apresentamos em alguns dos estudos que já produzimos –, as preferências e princípios dos consumidores têm guiado grande parte dos mercados em direção à inovação e transformação de práticas até então já bem estabelecidas. Aliado a isso, quando se trata sobre negócios sociais, sustentabilidade e temas socioambientais, é clara a existência de uma preocupação em âmbito global em relação a essas questões. 

O papel das aceleradoras na evolução do ecossistema  dos negócios de impacto

Outro fato impulsor desse segmento e que também pode facilitar a relação entre corporações e negócios sociais são os programas de aceleração de impacto, promovidos por organizações como Artemísia, Quintessa, Impact Hub, ICE, BlackRocks, Aceleradora Yunus Negócios Sociais e muitas outras. Em um post publicado no portal do GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas), foi destacada a importância dessas organizações, que funcionam como meio de campo entre as duas pontas, visto que “possuem repertório, ferramentas e networking sólidos que foram construídos ao longo de uma trajetória de atuação”.

Ainda de acordo com informações do post, sem o trabalho realizado por meio das aceleradoras, não haveria negócios de impacto em quantidade e qualidade suficientes para que outros atores do ecossistema pudessem estabelecer parcerias ou investir. Segundo o autor “há um argumento prático que pesa a favor da necessidade de que mais organizações do ecossistema sejam criadas e fortalecidas para que mais empreendedores estejam com seus negócios de impacto aptos e em condições de estreitar relacionamentos com institutos, fundações e/ou empresas”.

Existem, portanto, claros demonstrativos de que existem cada vez mais oportunidades e espaço para a criação de negócios de impacto e consequente evolução do mercado como um todo, visto que as apresentadas acima representam apenas um recorte de iniciativas existentes.

Saiba  aqui o que os profissionais de grandes empresas, especialistas e empreendedores falaram sobre o tema no painel de entrevistas do estudo