Sergio Risola, Diretor Executivo do CIETEC, foi um dos entrevistados para o estudo Liga Insights Hard Sciences na Saúde, lançado em julho de 2020. Durante a entrevista, ele falou sobre os desafios e possibilidades em torno do desenvolvimento científico na área de saúde.
O estudo completo está disponível para download neste link.
O CIETEC é a entidade gestora da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica USP-IPEN, estabelecida com a missão de promover o Empreendedorismo Inovador, incentivando a transformação do conhecimento em produtos e serviços de valor agregado para o mercado.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Liga Insights (LI) – Atualmente, como o Cietec atua no mercado de desenvolvimento tecnológico e científico?
Sergio Risola (SR) – O Cietec nasceu com uma vocação multidisciplinar. Durante 17 anos o Cietec foi independente, e, de cinco anos para cá, passou a ser uma unidade de negócios da USP e do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares). Hoje, são mais de 100 empresas incubadas aqui, com um foco forte em Hard Sciences em Saúde, Química e Energia, mas também atende outros segmentos. Para grandes empresas, nós oferecemos espaço para a construção de áreas de P&D dentro do centro, que crescem com CNPJ próprio. É um ambiente único no país.
LI – Projetos e negócios em Hard Sciences para Saúde enfrentam desafios peculiares à área?
SR – Existe um primeiro grande desafio, que é a saída do projeto do laboratório da universidade para a bancada para estruturar de fato o negócio, sair do P da pesquisa, transformar em D de desenvolvimento e incorporar o I de inovação. E entender, de fato, do que ele necessita, tamanho de equipe, investimentos. Muitos pesquisadores não conseguem, ainda, dar esse primeiro passo, de materializar a ideia, colocá-la no papel e transformá-la. É um trabalho de catequização muito importante. Além disso, as grandes corporações ainda não entendem muito bem a dinâmica de uma relação com esses negócios, acabam passando por cima. Cabe a nós fazê-las entenderem que essas startups podem ser importantes para agregar valor e conhecimento a elas.
LI – Como você enxerga a questão dos investimentos e evolução no setor?
SR – São escassos. São poucas as startups e negócios que conseguem captar e, além disso, quando conseguem, futuramente vão precisar de investimentos bastante robustos, são saltos que demandam dezenas de milhões, é um segmento que naturalmente demanda muitos recursos. Como são investimentos de alto risco, é preciso tempo na negociação, um tempo de convencimento que quase nenhuma startup tem, porque simultaneamente precisa sustentar a infraestrutura, o time. Além disso, os grandes centros de P&D das corporações não estão instalados no Brasil, é um investimento privado que está crescendo, mas ainda é baixo. O Brasil está um passo atrás em relação a modelos criados em outros países, mas nós estamos crescendo e agora vamos ter um novo momento. O cenário é otimista, até pela qualidade das universidades brasileiras, o potencial de pesquisa é muito alto.
LI – A dinâmica entre corporação e startup nesse segmento é diferente em relação a outros?
SR – No segmento de Saúde, nos últimos anos, houve teve uma evolução nessa dinâmica. Vejo que muitas startups já começam a entrar de maneira expressiva em ambientes hospitalares. Se pensarmos nas farmacêuticas e outras empresas que possuem seu core ligado à pesquisa, essa relação ainda está em processo de crescimento. É um gargalo que estamos vencendo. No entanto, assim como no Cietec, no Supera Parque, espaço também ligado à USP, o cenário da covid-19 está demonstrando que essa interação tem sido mais frequente, visto que os grandes laboratórios e corporações estão olhando para a ciência e para a inovação com maior atenção. Mas, além disso, precisamos de mais estímulos, mais eventos, mais possibilidades de interação, mais estudos sobre o segmento.