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Um caminho com curvas: a segurança no contexto logístico brasileiro

Conheça os desafios de segurança no contexto logístico brasileiro e as iniciativas de logtechs nesta área

Apreocupação com segurança é um tema que faz parte da realidade brasileira nas mais diversas esferas. Com o país ainda ostentando as primeiras posições em rankings globais de violência, tal preocupação é mais do que natural e está inserida no debate público brasileiro, no próprio dia a dia de cidadãos e empresas, que buscam alternativas para se precaver dos efeitos da violência, além de mover as políticas municipais, estaduais e federais de segurança. 

Neste sentido, ao mapearmos os desafios logísticos do país, não foi uma surpresa identificar a segurança nas estradas como um dos principais fatores de preocupação por parte das empresas. Isso evidencia, antes de tudo, um dos tema que abordaremos com mais profundidade na sequência deste levantamento: a concentração dos transportes do país dentro do modal rodoviário. A busca por alternativas de segurança nas estradas de modo mais massivo é uma das consequência do perfil logístico brasileiro.   

Apenas para termos uma primeira perspectiva, segundo dados do Banco Mundial, o Brasil é o país com maior concentração rodoviária dentre as maiores economias do mundo, tanto no transporte de cargas, quanto no de passageiros. Por sua vez, de acordo com a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), o país teve 22 mil registros de roubos de carga em 2018, que, em conjunto, geraram um prejuízo de R$ 2 bilhões para o setor produtivo do país.

A busca por segurança no modal rodoviário

Dentro deste contexto, faz todo o sentido que as empresas busquem por tecnologias que potencializam a segurança de seus ativos, colaboradores e cargas no modal rodoviário. Não à toa, até 2025, o mercado de segurança logística deve superar US$ 109 bilhões em âmbito global, de acordo com perspectiva apresentada pela consultoria Grand View Research.

É também interessante observar que as estratégias para aumentar a segurança nas estradas pode assumir diferentes direcionamentos. Na Souza Cruz, maior indústria de tabaco do país, por exemplo, tais ações envolvem tanto o fracionamento de cargas e uma cultura de colaboração com outras empresas, quanto a aplicação de inteligência na gestão da segurança.

“Nós temos uma agenda forte de colaboração. Então, para reduzir o desgaste nos nossos veículos, os custos logísticos como um todo e até para fracionar cargas e diminuir o impacto de furtos, temos um programa de parcerias com outras companhias. Aplicamos essa estratégia, pois, ao distribuir diversas marcas em um mesmo carro, conseguimos manter sequências de entrega, veículos ocupados e reduzir custos. Além disso, ao distribuirmos quantidades menores de carga em pequenos e ágeis veículos, temos alguns ganhos de eficiência e de segurança, principalmente nos centros urbanos”, explica Rafael Szarf, head de logística e inovação da Souza Cruz. 

Tecnologias de rastreamento e monitoramento

Outro eixo para aumentar a segurança nas estradas envolve os investimentos em tecnologias de rastreamento. O rastreamento em tempo real, aliás, é um que tem crescido em todo o mundo. Segundo um estudo da Frost & Sullivan, a vertical de ‘real-time tracking’ deve guiar o mercado de logística nos Estados Unidos ao longo dos próximos anos.

Há ainda uma tendência presente no mercado de segurança veicular com o comportamento dos motoristas e a relação deste comportamento com a prevenção de acidentes, manutenção de veículos e preservação de cargas.

O uso de tecnologias de monitoramento comportamental se justifica quando avaliamos que 90% dos acidentes de trânsito são motivados por falhas humanas, conforme análise do Observatório Nacional de Segurança Viária, e que as perdas com acidentes envolvendo caminhões são até 12 vezes mais custosos do que os roubos de carga nas estradas, segundo a Associação de Gestão de Despesas de Veículos (AGEV).

imagem descreve dados sobre acidentes de trânsito

Percebendo esta oportunidade de mercado, a DriveOn, startup do Amazonas que atua estrategicamente em Santa Catarina desde 2017, desenvolveu uma plataforma capaz de analisar o comportamento de condutores por meio de uma plataforma agnóstica integrada ao Blockchain e com inteligência de dados que se conecta a qualquer hardware de telemetria, inclusive informações enviadas via smartphone.

“Já em 2017, nós percebemos que havia uma tendência internacional forte no mercado de seguradoras que estava relacionado com o comportamento de condução. Vimos então uma oportunidade de trazer isso para o Brasil. Nosso principal diferencial neste eixo consiste em gerar scores de comportamento. Nós cruzamos três esferas de informação: o comportamento de condução em si; a contextualização (que leva em conta a infraestrutura, o meio-ambiente, e fatores que influenciam a percepção do condutor); e a saúde veicular. Nosso objetivo final consiste em identificar não só um comportamento de condução, mas um comportamento de risco, preservando assim, o maior número possível de vidas no trânsito”, explica Márcio Pessoa, cofundador da DriveOn. 

O desafio das startups

Apesar das boas perspectivas para o mercado de segurança logística que apontamos anteriormente, um desafio para as startups ainda envolve a demonstração de valor de suas soluções para as grandes empresas. É o que explica Expedito Belmont, cofundador e CEO da DriveOn.

“A percepção do valor do investimento em segurança, por si só, é um desafio. Uma vez que há essa percepção, é possível aplicar formas de prever a sinistralidade, otimizar a gestão de frotas ou melhorar o comportamento de motoristas no trânsito. Neste sentido, eu não vejo problema de tecnologia, vejo problema de percepção de valor. As empresas precisam entender que, ao investir em segurança, o número de ocorrências que afetem suas cargas e seus motoristas, irá se reduzir de modo significativo”, comenta Belmont.

Além da questão da percepção do investimento, para Mauricio Martinez, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Porto Seguro, um dos principais desafios para a implementação do modelo de seguro veicular baseado em comportamento do consumidor, no Brasil, é o próprio ambiente de insegurança do país. 

“Nós não só acompanhamos a tendência “pay how you drive”, como já temos um produto neste sentido, o Porto Seguro Auto Jovem, no qual, jovens que se habilitam a ter seus hábitos de direção monitorados, já tem um desconto de saída na contratação de um seguro veicular – e o desconto é estendido, também, para os pais. Um exemplo: se o jovem dirigir abaixo de 80 km por hora, em 80% do seu tempo, e se ele não dirigir entre meia-noite e seis da manhã, em 80% do período que dirige, ele é elegível ao desconto. Estendemos o desconto para os pais, que podem monitorar os hábitos de direção e estimular uma conduta de maior responsabilidade no volante. É importante reforçar que estamos falando de uma implementação complexa. No Brasil, a realidade é diferente da Europa, por exemplo, com índices menores de furto e uma cultura de segurança mais difundida”, sintetiza Martinez.  

Tecnologia e transformação cultural

Na visão do executivo, uma das formas de transformar culturalmente este cenário é, justamente, por meio de uma maior difusão tecnológica capaz de contribuir com a redução de sinistros e de propiciar uma nova mentalidade que se estenda para motoristas, seguradoras, transportadoras e para todo o ambiente de logística brasileiro. 

“A tecnologia, certamente, contribui com a diminuição de sinistros e há várias formas de se fazer isso: rastreamento de item, de carga, cobertura satelital, cobertura de celular, pontos que abrem novas possibilidades de proteção para as cargas e para a recuperação de ativos. Além disso, a tecnologia assume um papel importante no eixo de organização e informatização, que possibilita uma maior agilidade no acesso a informações – que cargas você está levando, para onde você está levando – e pode otimizar, até mesmo, o tempo de contratação para os operadores. Como tempo é dinheiro, se você utiliza a tecnologia para aumentar a segurança e reduzir a burocracia nos processos, melhor para as empresas e melhor para o país.” 

Dentro deste contexto, vale a pena apontar que a indústria de seguros com base no comportamento do usuário (usage-based), deve atingir US$ 123 bilhões, em escala, até o fim de 2022, mantendo uma média de crescimento na casa de 36,4%, de acordo com estudo da consultoria Allied Market Research.  

Este dado é interessante para percebermos que a segurança logística, nas suas mais diversas frentes, abre oportunidades para novas parcerias entre grandes empresas e startups capazes de contribuir com maiores níveis de proteção para motoristas, cargas e para a transformação digital do ambiente logístico brasileiro. É o que reforça Rafael Szarf, head de logística e inovação da Souza Cruz.

“O incentivo de startups é fundamental para que grandes empresas como a Souza Cruz possam construir um mindset diferente, mais propenso para a inovação. Lidar com empreendedores criativos, naturalmente, favorece o desenvolvimento da área de distribuição de nossa empresa e é um modelo que pode ser replicado por outras grandes companhias. Nosso objetivo, na Souza Cruz, é usar a inteligência digital em todos os campos da logística, aumentando assim nossa capacidade para superar os desafios que fazem parte, hoje, da estrutura logística do país”, encerra Szarf.

Saiba o que os profissionais de grandes empresas e especialistas estão falando sobre o tema em entrevistas completas aqui

sofit

Sofit

A Sofit é uma startup de Joinville/SC que conta com uma solução para a gestão de frotas com uma série de funcionalidades, incluindo uma ferramenta para o controle de multas e sinistros que gerencia as autuações de uma empresa. A startup foi case de sucesso da Salesforce no Vale do Silício.

cargox

CargoX

Com mais de US$ 95 milhões em investimentos, a CargoX é uma startup paulistana que conecta empresas com motoristas autônomos para o transporte de cargas e que possui uma funcionalidade para indicar as melhores rotas para os condutores, com base no histórico de segurança dos trechos.   

zubie

Zubie

A Zubie é uma startup americana que desenvolveu uma plataforma para empresas e consumidores com a qual é possível rastrear o veículo, acompanhar a saúde do carro e identificar comportamentos de risco em prol da segurança no trânsito. Já recebeu US$ 25,9 milhões em investimentos.

 

skycell

SkyCell

A startup suíça fundada em 2013 SkyCell, utiliza o IoT para tornar o transporte de cargas mais seguro, com acompanhamento em tempo real e controle de temperatura. Com foco especializado no mercado pharma, a startup é parceira de grandes companhias como AirFrance e UnitedCargo.

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