Independentemente da região ou país em que foi implementado – ou que discute as bases de sua implementação –, o movimento e conceito de Open Banking surgiu com um objetivo claro e principal: aumentar a competição dentro do setor financeiro, diminuindo a concentração bancária, e tornando-o mais tecnológico, digital e desenvolvido em aspectos de inovação.
Os altos níveis de concentração no Brasil
Tendo como premissa a abertura de APIs de bancos tradicionais e instituições financeiras, o conceito de banco aberto deve dar aos consumidores e clientes o que, de fato, é deles: a propriedade sobre os próprios dados e informações financeiras. Se pensarmos no modelo atual, a partir da aquisição de um novo cliente, os bancos concentram todas as informações captadas, como as relativas à conta corrente, extratos, dados transacionais e outras.
Sendo assim, o Open Banking surge como uma grande oportunidade de descentralização dos serviços e criação de novos negócios e plataformas, principalmente em países de alta concentração bancária.
No Brasil, os cinco maiores bancos – Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Santander e Bradesco – concentram 81,2% de todos os ativos do setor bancário comercial, conforme dados do Relatório de Economia Bancária (REB) relativos a 2018, divulgados em maio de 2019. O índice, apesar de ser inferior ao registrado em 2017 e 2016, 82,6% e 82,7%, respectivamente, ainda coloca o país como um dos que possui maior concentração bancária no mundo inteiro.
De acordo com uma reportagem do Nexo Jornal, que se baseia no REB-2017, em 2016 apenas a Holanda, entre os países presentes, possuía índices mais altos, beirando os 90% de concentração nos cinco principais bancos holandeses. Para efeito de comparação, China e Índia, nações emergentes, tal como o Brasil, possuem esse índice na casa dos 38%.
Uma grande oportunidade e abertura para o sucesso do Open Banking
Sendo assim, existe uma clara abertura para a entrada do Open Banking no Brasil, pensando em aspectos de negócios e levando-se em conta as características do segmento bancário e financeiro do país. Segundo reportagem especial do Uol Economia, de cada R$ 5 movimentados por aqui, R$ 4 estão sob “responsabilidade” de um dos cinco bancos brasileiros citados anteriormente; a movimentação do R$ 1 restante acaba sendo dividido entre aproximadamente 150 instituições financeiras.
De acordo com especialistas ouvidos para a reportagem, a concentração bancária resulta em taxas altas de juros, o que dificulta a tomada de empréstimo pelas famílias brasileiras e pequenas empresas. Ainda, resulta também em uma oferta pequena de opções de investimento. A falta de alternativas, portanto, faz com que o consumidor seja “obrigado” a optar por um dos grandes bancos, mantendo o panorama existente no mercado.
Apesar dos altos níveis de concentração, a entrada de tecnologias e inovação no setor começa a movimentar as bases do segmento e proporcionar mais possibilidades ao mercado e ao público. Novos bancos digitais nascem a todo momento e outros já bem estabelecidos, como Nubank, Banco Inter e Original, aumentam seus números e passam ser conhecidos pelos consumidores. Isso porque oferecem, em teoria, aquilo que as novas gerações desejam: conveniência e facilidade, somadas a um menor número de taxas e menos custos para o cliente.
Ascensão dos bancos digitais
Segundo um levantamento publicado no Estadão, realizado pelo professor Joelson Sampaio, que coordena o curso de Economia da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas), contas digitais podem ser 50% mais baratas do que as tradicionais para quem realiza poucas transações.
Em junho de 2019, conforme o portal EXAME, o Nubank se tornou a 6ª maior instituição financeira do país, com mais de nove milhões de clientes, totalizando 5,5 milhões de contas digitais. A expectativa é que com a adoção do Open Banking, novas fintechs e instituições financeiras baseadas em tecnologia surjam para otimizar processos e serviços inerentes ao segmento.
Um exemplo dessa abertura que já é realidade no país é a entrada do banco digital alemão N26 no Brasil, maior fintech da Europa com valor de mercado avaliado em US$ 2,7 bilhões, segundo publicação do InfoMoney. Em um projeto de expansão, deve desembarcar na América primeiramente nos Estados Unidos e depois em terras brasileiras.
De acordo com Eduardo Prota, General Manager Brasil do N26, as características do mercado brasileiro e a movimentação promovida pelo Banco Central, que objetiva maiores concorrência e competição, como é o Open Banking, surgem como boas oportunidades para novos entrantes no mercado e no país.
“A atuação do BaCen nessa direção tem sido muito interessante. O mercado entendeu que existe um novo panorama e a percepção é a de que já há um apoio a esse movimento de diversificação. A presença e sucesso de outras fintechs já mostraram que o brasileiro está aberto a inovações e novidades no setor financeiro. O ambiente é propício para isso, justamente por essa concentração. Além disso, a base regulatória está melhorando, flexibilizando o setor. É a criação de um ecossistema de muito valor, que vai oferecer mais e melhores serviços ao consumidor e fazer com que eles cheguem também aos desbancarizados”, afirma Prota.
O mercado dos desbancarizados
Existem, no Brasil, mais de 60 milhões de pessoas que não possuem vínculo com nenhum banco, conforme dados do IBGE publicados no portal Link. Esse número representa quase 30% de toda a população e mais da metade da população economicamente ativa, com número estimado de 110 milhões de pessoas.
Esse segmento movimenta R$ 665 bilhões anuais e, segundo informações do portal ASERC, foge das tarifas bancárias e atendimento ruim dos bancos tradicionais, além de não possuir interesse em estabelecer relacionamento com instituições financeiras.
Dado o tamanho desse mercado, existe um grande espaço de atuação para fintechs, especialmente quando se fala do movimento de Open Banking. Com a ascensão de novos negócios e fintechs no setor bancário e financeiro, o Banco Mundial calcula que o número de desbancarizados ao redor do mundo caiu de 2,5 bilhões, em 2011, para 1,7 bilhão em 2018.
Na América Latina e Caribe, por exemplo, o uso de tecnologia no contexto digital pode permitir um maior acesso a serviços financeiros: 55% dos adultos possuem celular e acesso à internet. De acordo com a pesquisa, a quantidade de pessoas que emitem ou recebem pagamentos em países como Bolívia, Brasil e Colômbia aumentou aproximadamente 8% desde 2014.
A partir da digitalização de pagamentos de salários, o Banco Mundial estima que a propriedade de conta bancária possa atingir cerca de 30 milhões de pessoas até então desbancarizadas, processo facilitado pela crescente utilização do mobile em operações desse tipo.
Portanto, a expectativa é que novas soluções – mais user-centric e com serviços personalizados – possibilitadas pelo Open Banking atinjam essa camada, democratizando o acesso a serviços financeiros, e estejam de acordo com os novos hábitos dos clientes.