Atualmente, conhecemos cada vez mais vez o papel dos dados no esporte. Em matéria da Forbes de janeiro de 2019, por exemplo, são apontados 5 direcionamentos centrais para o uso de analytics no esporte: engajamento de fãs; compreensão mais ampla do ecossistema esportivo; otimização das áreas de backoffice de clubes e associações; expansão de parcerias; performance de atletas e clubes.
Para Geraldo Campestrini, CEO da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), um dos principais atributos da análise de dados no esporte envolve uma melhora no processo de tomada de decisão dos stakeholders atuantes no ambiente esportivo.
“Os dados são o presente e o futuro do esporte. Em um mercado extremamente competitivo, como é o caso do esportivo, utilizar analytics é um caminho sem volta para que se possa, minimamente, permanecer no cenário. Acreditamos que o mercado vai se especializar cada vez mais e, ao mesmo tempo, trabalhar com dados em rede, de modo a cruzar informações gerenciais com as de performance esportiva, correlacionando-as com as perspectivas de negócios. Integrar dados segmentados para facilitar as decisões humanas deverá ser um diferencial proporcionado pela área”, comenta Campestrini.
A aplicação de dados no esporte
Diante de todo este contexto, a área de ‘sports analytics’ deve alcançar, ao longo dos próximos 5 anos, um crescimento médio de 31,2%, atingindo um valor de mercado de US$ 4,6 bilhões até 2025, conforme estudo divulgado pela PR Newswire.
Vale ressaltar ainda que a aplicação de analytics no esporte pode melhorar os resultados em diversas frentes. Um case interessante é o da NBA, que, após inserir dados estatísticos combinados com vídeos em seu site oficial, teve um aumento de 63% em pageviews já na sua primeira temporada de aplicação.
Não à toa, uma série de ligas e modalidades esportivas conta com departamentos específicos para análise de dados, conforme destaca artigo da Divante. Dentre os cases citados no texto, merece destaque a Premier League, na qual, cada um dos vinte clubes da primeira divisão inglesa de futebol possui à disposição estatísticos que fornecem informações relevantes sobre os jogos, desempenho de atletas e fraquezas que precisam ser aprimoradas.
Dentro do universo do futebol, aliás, o scout de atletas e de partidas é um dos terrenos mais férteis para iniciativas tecnológicas que tem o analytics como um dos principais pilares de sua infraestrutura e expertise.
Em linhas gerais, scout pode ser definido como o processo de examinar o desempenho de jogadores e de uma equipe, por meio do estudo de momentos de uma partida e/ou de ferramentas e profissionais capazes de realizar uma análise mais aprofundada das estatísticas de um jogo.
Startups e o scout de jogadores
O scout também é realizado no processo de seleção de jogadores, seja nas clássicas peneiras dos grandes clubes ou para a identificação de possíveis oportunidades para atletas em formação que podem interessar o mercado. E nessa etapa, a tecnologia também tem sido uma aliada de clubes e jogadores que sonham em se tornar profissionais.
A Sports Tech carioca Tero, por exemplo, atua como uma plataforma que conecta jogadores e jogadoras a oportunidades no futebol masculino e feminino, bem como, a vagas em universidades e colégios do mundo inteiro. Segundo Bruno Pessoa, cofundador e CEO da Tero, a análise de dados assume um papel crucial neste processo de direcionamento.
“Quem souber captar dados e usar isso de forma correta, sairá na frente em qualquer segmento hoje. No nosso caso, entendemos o atleta em quatro pilares: físico, técnico, tático e psicológico. Quando a gente junta esses pilares, entendemos que conseguimos encontrar um atleta melhor. A partir dessa primeira avaliação, fazemos um raio-x do atleta e conseguimos trabalhar em suas carências através da plataforma. Com o suporte dos dados, podemos identificar atletas com potencial de crescimento, dar um direcionamento melhor e auxiliar na tomada de decisão dos clubes. Isso gera um valor muito grande, pois estamos falando de um mercado milionário, em que atletas de alto nível são vendidos por milhões. Quanto mais dados temos, mais conseguimos comparar e correlacionar aspectos relacionados ao perfil do jogador. Vale salientar que não adianta apenas conectar o atleta com qualquer oportunidade, sem o uso de critérios e uma curadoria séria, pois, neste caso, é ruim para as duas pontas, para o atleta e para o clube”, comenta Pessoa.
O papel das startups é fundamental neste movimento de suporte para que atletas encontrem oportunidades em um mercado esportivo tão competitivo quanto o brasileiro. A startup Soul Brasil, por exemplo, está desenvolvendo uma plataforma para dar suporte aos atletas em seu processo de inclusão profissional.
“Vamos oferecer uma plataforma onde atletas que estão iniciando sua carreira poderão ter ferramentas para desenvolvimento pessoal e profissional. Acompanhamento de metas, possibilidade de exposição, descontos exclusivos com parceiros cadastrados, desenvolvimento de marca, branding etc. O que o atleta precisa para se destacar na sua modalidade e conseguir trilhar o caminho para o profissional”, explica Maria Teresa Publio Dias, co-fundadora da Soul Brasil. Novamente, os dados assumem um aspecto fundamental neste contexto.
“Queremos que a Soul Brasil se torne referência em investimentos com qualidade e um portal de big data dos atletas amadores do Brasil. Com as informações que vamos coletar dentro da plataforma conseguiremos entender mais a fundo o tempo de desenvolvimento de um atleta, fatores que impactam esse crescimento, definir KPIs e então um valuation para que investidores possam apostar nesses atletas que estão começando, sabendo num futuro, quando terão efetivamente o retorno desse investimento”, conclui Dias.
Os desafios para a inserção de atletas
Em relação a dificuldade de inclusão profissional no esporte, vale analisarmos o cenário do futebol como paradigma.
De acordo com dados do relatório “educação e as categorias de base”, por exemplo, o número de jogadores profissionais no Brasil é de cerca de 20 mil, dos quais, ao menos 17 mil estão em situação instável de trabalho – contratos de trabalho temporários, atrasos de pagamentos, etc. – e pouco mais de 2 mil e 700 se encontram em postos de trabalho que podem ser considerados de qualidade (clubes da série A, B, C + oportunidades internacionais que, em 2017, giraram em torno de 1.200 para jogadores brasileiros).
Por outro lado, nas categorias de base, temos mais de 40 mil jogadores que, em tese, irão disputar os 2.700 postos de trabalho mais estáveis e de qualidade. Só na base da Tero, há 32 mil atletas cadastrados em busca de uma oportunidade, por isso, a combinação de tecnologia, dados e curadoria pode ser decisiva para um direcionamento assertivo.
Dentre as iniciativas de sucesso da startup – que já captou US$ 250 mil em investimentos –, merece destaque a parceria com La Liga, na qual foram selecionados 13 atletas para realizar testes e disputar partidas com os melhores clubes da Espanha.
Dados e marketing esportivo
Em outra vertente, a startup paulistana iSPORTiSTiCS combina analytics, inteligência artificial e visão computacional em uma plataforma que modifica, cria e enriquece conteúdos de eventos esportivos a partir de um vídeo bruto, gerando entregas de mídia e desenvolvimento técnico.
Com 6 linhas de produtos no ar – incluindo a solução Grand Slam, que utiliza visão computacional para extrair dados em tempo real – a startup recebeu mais de US$ 600 mil em investimentos e conta com clientes como federações, publishers, broadcasters, OTTs, agências de eventos, times, além de outras Sports Techs.
“Conteúdo e desenvolvimento técnico, na minha visão, são os dois grandes temas que impactam o ambiente esportivo, ambos absolutamente envolvidos com tecnologia e com o uso de dados. No caso dos conteúdos, as formas de gerar e de consumir se modernizaram e hoje nos possibilitam uma diversidade de formatos, canais e acessos que não regressará mais. Já para falarmos de desenvolvimento técnico, além de aplicação das tecnologias como as nossas usando AI, acredito que o conceito atual de cooperação tem trazido para todos que quiserem possibilidades de aprender e implementar os mais avançados modelos de treinamento, gestão, fisiologia etc., do mundo”, analisa Vinicius Gholmie, fundador e co-CEO da iSPORTiSTiCS.
Para Ghomie, no entanto, um dos principais desafios para inserção de novas tecnologias no esporte envolve um processo de transformação cultural dos líderes do segmento.
“O baixo conhecimento dos envolvidos nas decisões ainda é um entrave. Tendo a acreditar pouco em mudanças contundentes em um segmento, se essas não forem conduzidas pelos líderes. No mínimo, elas serão muito demoradas, dolorosas. Ou seja, quem tem que difundir a inovação são os principais agentes do mercado esportivo: grandes times, ligas, marcas, federações, os maiores grupos de mídia. A partir deles fica muito mais fácil cobrir todo o mercado e trazer uma mudança contundente”, conclui Ghomie.
Load Control
A Load Control é uma startup mineira fundada em 2016 que utiliza análise de dados para gerar conhecimento sobre treinamentos e melhorar a prevenção de lesões em atletas. A startup foi acelerada pela Seed.
Gravol
A Gravol coleta dados e gera informação a partir de vídeos, permitindo que treinadores possam analisar finalizações, tempo de bola de atletas e, assim, melhorar o rendimento de equipes. Fundada em 2017, a startup faz parte do Programa Acelera Startup da Federação Paulista de Futebol.
PlaySight
PlaySight é uma startup de Israel que analytics, inteligência artificial e machine learning para extrair dados a partir de vídeos, com foco no desenvolvimento de atletas e broadcast. Já recebeu US$ 26 milhões em investimentos.
Zeep
A startup americana fundada em 2012, Zepp, desenvolveu uma tecnologia de sensores vestíveis para jogadores de golfe, tênis e beisebol com a qual os jogadores podem gerar estatísticas sobre suas performances. Já recebeu US$ 46 milhões em investimentos.