Saúde e bem-estar compõe outro segmento que tem um grande peso na economia brasileira. Em 2014, 6,8% do orçamento público foi destinado ao setor, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma taxa menor do que a média mundial, que é de 11,7%. Em comparação ao Produto Interno Bruto, a participação dos gastos com saúde brasileira é de 8,3%. De acordo com o levantamento feito pela publicação científica The Lancet, espera-se que até 2040 sejam destinados 11% do PIB brasileiro para a área de saúde. O Brasil fica na 6ª posição no ranking de investimento total. Entretanto, quanto a investimento público, cai para a posição 39º. Isso ocorre, pois 54% dos investimentos no setor vêm de fontes privadas, como os planos de saúdes.
Para o Instituto Coalizão Saúde, o sistema de saúde se tornará insustentável. Um dos pontos para o qual a instituição pede atenção é o envelhecimento da população brasileira, que triplicará até 2030, o que fará com que apenas 10% dos idosos de renda média tenham condição de contar com a cobertura de plano de saúde privado. O estudo ressalta a importância de evoluir a área com a introdução de tecnologias, apontada como uma das limitações e pontos de melhorias.
Apesar de os investimentos em saúde digital terem quadruplicado nos últimos anos, atingindo mais de 5 bilhões de dólares em 2014, em termos de inovação na área, o Brasil está bem abaixo da média mundial de competitividade. Por outro lado, as empresas do setor esperam, de fato, que as tecnologias ajudem na eficiência dos negócios. Um levantamento da Dell que mapeia a área apontou que 55% dos entrevistados acreditam em uma melhoria causada pelas tecnologias. A melhoria na segurança, o aumento da produtividade, a melhoria nos processos operacionais e a redução de custos são outros motivos que incentivam o uso delas dentro das empresas.
Inteligência artificial aplicada no setor
A integração entre os sistemas e o uso de inteligência artificial para análise de dados é um exemplo. O impacto dessas implementações pode gerar ganhos de até 35%, de acordo com a McKinsey & Company. Segundo levantamento feito pela Accenture com 500 médicos, 70% dos entrevistados têm conhecimento no uso de prontuários eletrônicos e 63% deles afirmam que o uso de tecnologias reduziu o tempo de espera das consultas.
Saiba o que Maria Lúcia Pontes Capelo Vides, Superintendente - Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, fala sobre as Tecnologias Emergentes e o setor de Saúde e Bem-estar
Entender o big data da saúde é um exemplo. Vê-se como uso em estudos de saúde populacional e grande aliado das políticas públicas. Também podemos citar o blockchain, com luz para a certificação digital, a criação de contratos inteligentes e o uso na assistência farmacêutica. Isso permitirá que os pacientes tenham propriedade sobre os seus dados na saúde digital.
As propostas que consigam aliar esses dois fatores a um custo-benefício positivo têm grandes chances de conseguir espaço no setor de saúde.
Maria Lúcia Pontes Capelo Vides, Superintendente – Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos
Alguns hospitais brasileiros, como o Albert Einstein, já utilizam inteligência artificial em aparelhos que captam sinais vitais do paciente, os interpretam e enviam automaticamente para os prontuários sem a necessidade de intervenção humana. As tecnologias remotas, como a telemedicina e o monitoramento remoto de pacientes crônicos, permitiu uma redução de 52% das internações de idosos no Reino Unido.
Investimento corporativo em startups
Krishna Yeshwant, um dos líderes de investimento do Google Ventures, apontou que a empresa tem interesse em prontuários eletrônicos, acompanhamento médico digital, plataformas de ensino médico que contribuam para o sistema de aprendizagem e novos tratamentos para neurologia, condições inflamatórias e doenças infecciosas. Em agosto de 2017, a empresa adquiriu a Senosis, startup que permite identificar e monitorar condições de saúde sem a necessidade de um hardware.
A startup Tempus, criada por Eric Lefkofsky, cofundador do Groupon, em 2015, foi outra que já recebeu um total de 130 milhões de dólares em investimentos desde a sua fundação. Com foco no sequenciamento de genomas para ajudar médicos nos tratamentos de câncer, faz parte do grupo que recebeu mais de 3,5 bilhões de dólares em investimento no primeiro semestre de 2017.
De acordo com relatório divulgado pela Rock Health, até junho de 2017 mais de 188 acordos foram fechados nos Estados Unidos. Em 2016, o total de investimento foi de 4,3 bilhões de dólares e 304 novas startups foram investidas.
No Brasil o setor de saúde e bem-estar chama a atenção principalmente dos fundos de investimento de private equity. A compra de participações de empresas da área movimenta 18 bilhões de reais em mais de 40 transações efetuadas Brasil desde 2014, segundo levantamento da consultoria Transactional Track Record (TTR). Ao mesmo tempo, há também um interesse das próprias organizações em investirem em startups de health tech.
O setor de saúde já recebeu 12.5 bilhões de reais, segundo a Abvcap. As startups brasileiras, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos, não são focadas em biotecnologia e genética: 80% das 900 startups de saúde focam no desenvolvimento de aplicativos para melhoria de gestão, tais como agendamento de exames e qualidade de vida de pacientes.
O Portal do Médico é um exemplo. A startup gaúcha anunciou, em junho de 2017, investimento da Kick Ventures e já superou o valor de 100 milhões de reais em negociações de cotações, venda de produtos e serviços desde o seu lançamento, em 2015.
Outras áreas do setor de saúde que envolvem tecnologias emergentes são órgãos artificiais, robôs cirúrgicos, interface cérebro-computador, imunoterapia, nanosensores, medicina regenerativa, genomas sintéticos para medicina personalizada, além de deep learning para melhorar a interação homem-máquina.
Saiba o que Paulo Pinheiro, CEO da HOOBOX, fala sobre as Tecnologias Emergentes e o setor de Saúde e Bem-estar
Tecnologias como esta, quando voltadas para a área da saúde, em geral requerem um período maior de pesquisa, podendo envolver diversos grupos, tornando o processo de validação mais complexo do que em outros setores. Grandes hospitais hoje possuem um forte setor interno de inovação capaz de entender esse desafio agilizar esse processo de validação.
Hoje, a nossa tecnologia de análise facial está sendo validada dentro do maior hospital da América Latina, para monitorar pacientes em leitos de UTI, identificando até 10 níveis de dor, agitação e sedação, por análise facial do paciente, sem sensores corporais envolvidos.
Com isso, é possível monitorar o paciente 24 horas por dia para detectar e prever comportamentos e complicações, além de garantir o uso adequado dos recursos, como sedativos. Recentemente, o hospital virou investidor da startup, o que sinaliza que o setor está atento às inovações.
Paulo Pinheiro, CEO da HOOBOX
A iCarbonX é uma startup chinesa de concentração e aplicações do chamado Big Life Data, capturado através de soluções IoT e interpretado por AI. Já recebeu cerca de US$200 milhões em investimentos, tendo a gigante Tencent como um dos seus investidores.
A startup britânica BenevolentAI despertou o interesse de importantes players da indústria farmacêutica ao usar AI para a busca e descoberta de tratamentos de doenças como o Alzheimer. Já levantou mais de US$100 milhões em investimentos.
A Carenet é uma startup que alinha AI com captura e manipulação de dados de wearables e outros dispositivos de monitoramento. Seu algoritmo é capaz de interpretar o lifestyle e entregar informações relevantes. Já monitorou mais de 140 mil vidas.
A HOOBOX é um conjunto software e hardware capaz de entender e traduzir expressões faciais em movimentos e ações. Sua principal aplicação hoje é em cadeiras de rodas, mas pode ter sua tecnologia também usada para registro de dores, fadiga e outras reações.