Energia na era dos gases
Confira artigo de opinião sobre a era dos gases na energia
ARTIGO DE OPINIÃO
Por: Cícero Bley / Fundador e CEO da BLEY Energias Estratégias e Soluções, startup cleantech, incubada na INTEC/TECPAR Curitiba, em processo de certificação de uma microrefinaria para produção de biometano.
Aí vamos nós em meio a intensas turbulências causadas pelas transições paradigmáticas que movimentam vários aspectos da nossa civilização.
Enquanto Zygmund Bauman revela em A Cultura no Mundo Líquido Moderno os conceitos da “modernidade líquida” e discute as transformações que ocorrem no campo da cultura a partir de novos mecanismos de distinção social e de formação de consumidores, em outros campos também estão a ocorrer transições, sendo fundamental, pelo menos, identificá-las.
No campo das energias, há algum tempo, a transição para a modernidade vem se constituindo gasosa. Justamente substituindo o padrão de combustíveis líquidos. Se Bauman fosse engenheiro de energias, e não filósofo, e se cultura e energia tivessem as mesmas configurações, a sua modernidade líquida já teria sido superada. Que as diferenças sejam sempre louvadas e respeitadas.
Em 2011 Robert Hefner III publicava A Era dos Gases, demostrando a transição dos combustíveis líquidos para os gases, que terá o Hidrogênio como ápice, sendo a fonte de energia mais limpa que a humanidade conhece. A transição deve ocorrer passando pelo gás metano, tanto por aquele de origem fóssil associado ao petróleo, como pelo de origem biológica – o biogás, resultante da digestão anaeróbica de materiais orgânicos. Ambos gases intercambiáveis, complementares.
Em alguns lugares, essa transição para os gases já vem ocorrendo. Na gestão de Bush Filho, os Estados Unidos fez opção pelo shalegas, ou gás do xisto. Naquele momento o presidente literalmente passou por cima das leis ambientais e da poderosa EPA, impondo a realização da transição com novas regras para exploração. Mesmo que as custas de riscos ambientais. Quebra literal do paradigma vigente. Certos ou errados os meios usados, com isso os Estados Unidos obtiveram independência de acesso a combustíveis e o gás ganhou participação expressiva na matriz americana.
No Brasil estamos na ante-sala de uma transição para os gases, só que muito menos traumática. Trata-se da disponibilidade de gás associado, ou Gás Natural que é obtido com o avanço dos poços do Presal. Para efeito de ilustração, em 2019 uma uma quantidade de Gás Natural equivalente a toda a demanda atual da indústria nacional foi reinjetada nos poços do Rio de Janeiro. Isso ocorreu por falta de infratestrutura de transporte e distribuição. Quesitos que a Petrobrás descuidou. Não se preparou, não planejou, negligenciou.
A gigantesca disponibilidade de gás natural do Presal tem motivado o próprio Governo Federal e os maiores usuários, a indústria, a utilizá-lo. Está no Senado Federal o Projeto de Lei Nº 4467/2020 contendo uma nova lei do gás, aguardando aprovação no Plenário para seguir à sanção presidencial.
O “Novo mercado do gás” já produziu a ruptura do monopólio de transporte e comercialização da Petrobras, mudanças profundas na regulação dos gases e está atraindo novos players mundiais e nacionais. A expectativa é de que supere-se a falta de gasodutos de transportes pela ancoragem do consumo nas regiões interiores no consumo industrial, nas termelétricas à gás e nos transportes em corredores de GNL e bio GNL.
No bojo das aplicações diretas, instala-se uma matriz combustível que sucede e complementa a hidráulica no campo da eletricidade e substitui os combustíveis fósseis nas movimentações de cargas e pessoas, com reduções expressivas de emissões de gases do efeito estufa.
Um enunciado que por si, estabelece muitas expectativas para projetos de inovações aplicáveis em vasta gama de atividades, com novos agentes induzindo- as. Isso tudo a se realizar nos novos tempos dos combustíveis gasosos e sua química fina.
Um dia li num jornal em Montevideo uma reportagem sobre mudanças de combustíveis ocorridas com navios em operação na Bacia do Prata. “Trocar diesel, ou óleo bruto por GNL – Gás Natural Liquefeito, equivale em impactos na navegação, àqueles que ocorreram na substituição das velas pelo vapor”, dizia a matéria.
“Sejam bem vindas as transições paradigmáticas” – ouso dizer.
Sobre a Liga
A Liga Ventures é uma plataforma de inovação aberta, que conecta empresas e startups a fim de potencializar interações e gerar novos negócios. Criada em 2015 é pioneira no mercado de aceleração corporativa e corporate venture. Ao longo dos anos, auxiliou na implementação de estratégia de inovação aberta nos principais players de diversos setores do mercado brasileiro, tais como Porto Seguro, Banco do Brasil, e Unilever. Em seu portfólio, soma mais de 250 startups aceleradas e mais de 450 projetos realizados entre essas e grandes corporações. Também conta com o Liga Insights, iniciativa de pesquisa e inteligência de mercado, cujo objetivo é mapear tendências e startups que estão inovando nos mais variados setores. Já são mais de 25 estudos, em temas como de AutoTech, Retail, HR Techs, EdTechs, entre outros.