Além da análise e monitoramento do solo, como vimos no capítulo anterior, outro desafio enfrentado no setor Agro é a obtenção de eficiência em uma grande área em monitoramento de colheita e criação.
Ele se torna ainda maior com a imprevisibilidade das condições climáticas, que aumentam os riscos de produção e manutenção de custos no campo. Até então, uma das formas mais avançadas de monitoramento era por imagens de satélites.
Algumas das grandes limitações dessa prática são o alto custo, imprecisão de qualidade das imagens e a necessidade de solicitá-las com antecedência.
AgTechts e o monitoramento de solos
Muitas AgTechs têm apresentado soluções para tais desafios. Uma delas é a ALTAVE, que fornece monitoramento e conectividade em grandes áreas com balões cativos. Os balões são fixos no solo por meio de um cabo e têm a possibilidade de alcançarem até 200m de altura. Permitem uma vista privilegiada e têm a vantagem de serem flexíveis e móveis.
Os softwares da startup analisam pontos pré-selecionados, detectando movimento e mudanças nas áreas monitoradas. De acordo com a Gerente de Produto, Michelle Bueno, em uma área de até 40km de raio, a ALTAVE fornece internet com velocidades de até 5 mbit/s.
Na mesma área, em raios de até 5km, pode chegar a 100 mbit/s por meio de link wi-fi direcional. Distribuem informações em tempo real para agricultura de precisão, monitoramento de dados da colheita, telemetria das máquinas, feedback de operadores, acompanhamento da condição do solo e retransmissão de sinal RTK para coordenadas GPS precisas.
A ALTAVE já forneceu os seus serviços para a Suzano, Fibria e a Klabin. No total, monitorou mais de 850 mil hectares e conectou mais de 25 máquinas.
Além de imagens de satélite e monitoramento por meio de balões cativos, outra tecnologia que tem se tornado essencial para a resolução dos desafios citados anteriormente são os drones. Eles passaram a oferecer uma grande variedade de monitoramento de colheitas por um custo baixo.
O potencial dos drones e dos VANTs
Além disso, os drones têm sido capazes de captar dados de irrigação, níveis de nitrogênio e identificar quais partes do campo precisam de mais ou menos água.
Apesar de não serem novidade, pois são usados para fins comerciais desde a década de 1980, eles têm recebido cada vez mais investimentos e flexibilizações de regulações governamentais.
De acordo com a Business Insider, o valor de mercado das aplicações de drones em todas as indústrias é de US$ 127 bilhões. No setor de Agro, o valor é de US$ 32,4 bilhões, segundo o levantamento Clarity from above, da PwC.
O uso de drones tem sido tão importante que, em 2016, 41 deals foram fechados entre startups e grandes corporações de diversos setores, dentre eles o de Agricultura, segundo o CB Insights.
A Micasense, fundada em 2014 em Seattle, é uma das startups que apresentam soluções em drones para a agricultura.
Por meio de uma câmera multiespectral, a startup integra a análise das informações captadas pelos drones, permitindo que os produtores tenham uma abordagem mais científica para avaliar a saúde das culturas no campo. No total, a Micasense arrecadou US$ 9,4 milhões em duas rodadas de investimento lideradas pela Parrot, uma das principais empresas de drones do mundo.
A Yara, líder mundial em nutrição de plantas, tem trabalhado no desenvolvimento de uma tecnologia com drones auto pilotados em um ambiente sem GPS. Com o objetivo de controlar o volume das pilhas de fertilizantes dentro dos armazéns e melhorar o tempo de medição dos inventários, atualmente os resultados beiram 100% de precisão na medição.
Um processo que era feito em um dia, hoje é feito em 15 minutos. De acordo com Glauber Vicari, Head of Digital Labs da Yara, as startups têm um papel fundamental neste cenário.
“Empresas grandes não têm velocidade e abertura o suficiente para se aventurar em novos modelos de negócios. No nosso programa de aceleração, buscamos criar mecanismos de ganho mútuo. Acreditamos que iremos aprender com as startups da mesma forma que aprenderão conosco”, diz.
Ele também conta que o principal aprendizado foi entender que as empresas têm de se adaptar às startups e tentar construir valor juntos. “Aprendemos a buscar na startup o que ela tem e não algo que queremos”, continua. Além disso, entenderam que é preciso apresentar soluções completas aos produtores.
“A oferta de soluções digitais no Agro é muito dispersa. Para os fazendeiros, se torna um transtorno usar muitos produtos”, afirma. Para ele, não basta uma solução que apenas coletará imagens; é preciso que as interpretem e dêem insights relevantes.
A Pix Force é uma startup que percebeu essa demanda. Fundada em 2016 em Porto Alegre, desenvolveu um software com visão computacional para realizar interpretação de imagens capturadas por drones e satélites.
Segmentos de aplicação tecnológica no mercado Agro
Concentrados na atuação dentro de indústrias florestais, em plantações de eucaliptos, realizam censos florestais, identificam possíveis deficiências físicas das plantas, enviam alertas sobre alterações no campo e apontam ineficiências nas linhas de plantio.
De acordo com Vitor Tosetto, CEO da Pix Force, as soluções são perfeitamente viáveis para pequenos e médios produtores. Ao mesmo tempo, ele conta que ainda percebe uma desconfiança em relação à tecnologia.
Além disso, também enfrentam dificuldades quanto à mudanças climáticas, durante os voos com os drones, e com o alto custo e baixa resolução, em relação às imagens de satélite.
“Quando recebemos uma imagem com muitas nuvens, temos que esperar o satélite passar novamente pelo local, o que diminui a agilidade e eficiência do processo. Esperamos uma evolução dessa tecnologia, com incentivos para baratear e melhorar a qualidade das imagens de satélite”, diz.
Os drones são usados não só para captura de imagens, mas também como instrumentos para melhoramento da pulverização de produtos no campo. Os drones permitem a aplicação na quantidade correta de líquido, nos lugares corretos.
Isso aumenta a eficiência de aplicação, bem como reduz a quantidade excessiva de produto aplicado. Especialistas dizem que a aplicação de produtos por drones é até cinco vezes mais rápida e precisa do que os métodos tradicionais.
A Perfect Flight, startup fundada em 2015 em São João da Boa Vista, foi criada justamente com o intuito de realizar monitoramento de defensivos com aviões para pulverização de áreas externas.
Percebendo uma carência de monitoramento de aplicação aérea de defensivos e falta de processamento de dados com precisão, agilidade, idoneidade e assertividade, criou um sistema voltado para a gestão de aplicações de defensivos, com foco na otimização de performance e melhoria dos índices de acerto e uniformidade.
Por meio do aplicativo, o produtor acessa todos os dados da pulverização aérea do seu cultivo e determina onde e como serão as próximas aplicações. Com o apoio do Pulse, fizeram um projeto de 400 mil hectares, com um índice de acerto em mais 90%. Antes, sem a utilização da ferramenta, o nível era de 65%.
O índice de falha com o uso do aplicativo da startup é em torno de 5% – antes da tecnologia, era em torno de 15%. Em quatro anos de atuação, a startup monitorou mais de 2 milhões de hectares no Brasil e diagnosticou os principais desafios no segmento: excesso de sobreposição e aplicações fora do perímetro correto.
Assim como conta Leonardo Luvezutti, Gestor de Operações da Perfect Flight, a aplicação aérea de defensivos agrícolas era feita sem nenhum tipo de medição de sua eficiência e faltava um plano de voo eficiente para o piloto, para que pudesse detectar facilmente a área que deveria receber o produto, evitando sobreposições e desperdícios.
“Nossa solução é uma inovação na área. Antes, não existia nenhum software capaz de calcular as informações com precisão e rapidez. Temos mostrado nosso impacto por meio de retorno em produtividade e garantia de mais qualidade”, diz.
“Ganhamos o aval de grandes empresas, como a Raízen. Ter grandes empresas do agronegócio apresentando nossos resultados e eficiência diminui o receio de qualquer produtor em experimentar nosso trabalho”, afirma.
A ARPAC foi fundada em 2014, em São Leopoldo, e produz drones e VANTs para pulverização agrícola, com o objetivo de controlar pragas e doenças. A startup participou dos programas de aceleração AGROSTART, em parceria com a BASF.
A Horus Aeronaves é uma startup fundada em 2014, em Florianópolis, que possui uma plataforma de processamento de imagens que gera análises para a tomada de decisões sobre topografia, controle ambiental e mineração. Tem clientes como a BASF, a Geoflorestas, a UCS, entre outros.
A AgEagle é uma startup americana fundada em 2013, que desenha, desenvolve e distribui drones e VANTs com tecnologia avançada. Por meio de uma plataforma de análise de dados, entrega inteligência de colheita trabalhada nos conceitos de agricultura de precisão e sustentabilidade.
Fundada em 2015 em Londres, a Hummingbird é uma startup que utiliza machine learning e visão computacional para analisar imagens captadas por drones e VANTs, ajudando os produtores a identificar problemas de forma rápida. A startup já arrecadou US$ 6,2 milhões em investimentos.