Pensar na gestão e coordenação de times de forma estratégica ainda é um dos grandes desafios enfrentados pelas empresas. Desenvolver táticas e técnicas eficientes em busca de melhoria de performance é essencial por, principalmente, duas razões: maior satisfação por parte dos colaboradores e baixa rotatividade destes, de maneira a economizar dinheiro e tempo para contratar novos talentos. Desta forma, tais processos entrariam como parte de um ciclo positivo: a gestão bem feita de times resulta em profissionais mais satisfeitos e experientes, o que, por sua vez, pode gerar melhores resultados para a empresa.
Em busca da entrega de serviços e produtos inovadores, tornou-se necessário, portanto, que as formas de trabalho fossem otimizadas, utilizando-se de recursos disponibilizados pelas inovações tecnológicas. De acordo com o CTIO – Chief Technology & Innovation Officer – da Accenture, Paul Daugherty, “há uma nova obrigação e ao mesmo tempo uma oportunidade para as companhias se engajarem com as pessoas de maneira diferente”.
O estudo Technology Vision 2018, realizado pela Accenture, aponta que algumas das tendências direcionadas às chamadas Empresas Inteligentes e que impactam o mercado, referem-se ao modelos de trabalho adotados pelas equipes e à formação de times. Um exemplo disso foi uma pesquisa realizada internamente pela AT&T, gigante americana de Telecomunicações, que revelou que 240 mil funcionários da empresa ocupavam cargos que se tornariam obsoletos em um período de 10 anos.
Foi descoberto, também, que apenas metade do quadro de colaboradores possuía formação em STEM – sigla para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática –, enquanto que a necessidade de profissionais nessas formações dentro da empresa seria de 95% em 2020. A partir da pesquisa, a AT&T iniciou o WorkForce 2020, um programa com o objetivo de preparar 25% de seus funcionários para ocupações consideradas modernas.
A gestão de times de TI talvez seja mais complicada, em relação a outros times, exatamente pela modernização “repentina” dos processos de produção, que agora demandam muito mais de equipes responsáveis pela tecnologia nas empresas. Passou a existir, assim, uma responsabilidade estratégica dos times de TI, agora não mais vista como uma área voltada apenas ao suporte, como comumente acontecia anos atrás. Segundo explicação da IBM, como consequência dessa transformações, “o advento da revolução digital transformou a natureza das conversas relativas à infraestrutura de TI, que agora são menos técnicas e mais estratégicas”.
O Manifesto Ágil: uma mudança brusca nos times de tecnologia
Elaborado em 2001, o chamado Manifesto Ágil é considerado um divisor de águas quando falamos de desenvolvimento de software estratégico. Essa declaração de princípios mudou muito os padrões estabelecidos em equipes responsáveis por tecnologia e, apesar de ter sido formulado quase 20 anos atrás, continua sendo importante pelo seu legado e continuidade. De acordo com Saulo Arruda, cofundador e CEO da Jera, a grande maioria das metodologias surgidas para a gestão de times de TI se baseou, de certa forma, no Manifesto Ágil.
A partir de 2001, empresas, pessoas e universidades começaram a discutir sobre uma nova fórmula de desenvolver software, que veio a ser chamado de Desenvolvimento Ágil de Software, que revolucionou os processos de gestão de equipes de software de lá pra cá. O que aconteceu ao longo dos anos é uma evolução disso, então hoje existem uma série de variantes, como Scrum, Squad e Design Sprint. E outros aspectos foram adicionados nesses métodos para melhorar, padronizar e comparar formas de gestão de equipes de TI”, afirma Arruda.
No entanto, apesar do surgimento de novos métodos considerados modernos e tecnológicos para a gestão de times, resolver problemas em equipes de TI está longe de ser algo simples. Segundo Arruda, sempre haverá um problema de produtividade, visto que desenvolver softwares é uma atividade complexa, que varia muito de acordo com o número de membros e é cercada por problemas de contratação de novos talentos. “Em um time que conta com pessoas mais seniores, mais experientes, vai existir um código [de programação] provavelmente muito mais seguro, mais maduro, mas com uma evolução talvez mais lenta. Contratar profissionais seniores é um grande desafio. Por outro lado, não contratá-los pode resultar em outros problemas, como problema de gestão, de qualidade de código, de entendimento e falta de maturidade”, diz.
“A maioria das equipes conta com 20% de profissionais sênior, 60% de pessoas que estão em um nível intermediário na carreira e mais 20% que está no início dela. Então é preciso entender como conseguir o melhor resultado possível de um time com esse tipo de configuração e com outros que existem”, continua.
O novo perfil do profissional de tecnologia
Em 2018, a Revelo, startup que conecta profissionais a empresas inovadoras no mercado, publicou uma pesquisa detalhada a respeito da remuneração na área de tecnologia. Segundo a pesquisa, apesar de as grandes empresas ocuparem uma fração representativa do mercado e proporcionarem melhores remunerações, na maioria das vezes não é o salário que fala mais alto. De acordo com os dados obtidos pelo estudo, 61% das contratações realizadas não estavam relacionadas à maior oferta salarial.
Existem dois principais aspectos que são considerados mais importantes do que o salário para os candidatos. Primeiro, modernidade da linguagem. A linguagem que as empresas selecionam para desenvolver o produto delas é muito importante para atração de talentos. Iss, pois o candidato quer desenvolver competências em linguagens mais modernas, de forma a se transformar em um ativo mais valioso no mercado e estar mais bem posicionado. O segundo driver é uma questão de propósito e missão. Os candidatos valorizam muito o propósito, a missão e a motivação da equipe. Isso precisa ficar externalizado durante o processo de recrutamento e contratação de talentos porque aumenta as chances de a empresa ser atraente para o candidato”, conta Lucas Mendes, cofundador da Revelo.
Ainda de acordo com Mendes, “terceirizar” a contratação de novos profissionais de tecnologia unicamente à área de Recursos Humanos (RH) de uma empresa é um problema, visto que esta ainda, muitas vezes, não tem conhecimento técnico para navegar em um ecossistema como esse. Ou seja, é preciso que os contratantes do setor de TI também se envolvam no processo.
Manutenção de colaboradores x turnover
Um exemplo de empresa que concentra seus esforços na manutenção de talentos é a Elo7. Criada em 2008, a startup é um marketplace de produtos artesanais. Unindo o artesanato à inteligência artificial, gerou, em 2017, 550 milhões de reais em vendas e prevê um crescimento de 50% em 2018. Atualmente, a plataforma possui aproximadamente 90 mil vendedores e recebe, mensalmente, 30 milhões de visitas aos mais de 4,8 milhões de produtos disponíveis para venda. No entanto, apesar dos números que surpreendem, como muitas outras empresas, a Elo7 sofre com o chamado turnover – rotatividade e substituição de funcionários –, muitas vezes devido à crise econômica pela qual o país passa.
Assim, torna-se necessário o estabelecimento de dinâmicas que sejam atrativas aos funcionários e colaboradores. De acordo com David Robert, CTO da empresa, muitos deles optam por sair do Brasil em busca de melhores condições em outros países. “As pessoas não estão saindo da Elo7 especificamente. Elas estão saindo do país, principalmente para países europeus, devido à situação econômica. E é difícil competir com empresas estrangeiras, mas, em um contexto nacional, nós atraímos talentos com um ambiente agradável”, afirma o CTO. De acordo com Robert, é realizada uma série de eventos voltados ao ambiente de engenharia de software, como os tech talks semanais, para compartilhamento de conhecimento.
Além disso, a startup também trabalha a organização de seus times oferecendo um conhecimento contínuo aos funcionários, por meio do que chamam de pareamento. Segundo o CTO, quando um novo colaborador é contratado na Elo7, ele é pareado a um outro funcionário. Depois, o pareamento é feito com outras equipes e, ao final do processo, esse contratado passa a ter uma visão geral de tudo que acontece. Além disso, a cada 3 meses, são realizadas mudanças nos times, de forma que exista um compartilhamento de informações e aprendizado.
A gestão de times de TI como estratégia
Ainda segundo a pesquisa realizada pela Revelo, profissionais de tecnologia possuem, em média, salários mais altos em relação aos de outras ocupações. Profissões como as de cientistas de dados e designers de UX, como mostrado em outros aprofundamentos sobre a área de TI, têm cada vez mais sendo valorizadas e consideradas como essenciais nas questões estratégicas das empresas, o que seria uma das justificativas para as remunerações mais altas recebidas. De acordo com Mendes, as equipes de tecnologia têm saído da área de back-office das empresas para virar também parte da proposta de valor inerente a um produto ou serviço.
Em 2009, o grupo Adtalem Educacional iniciou suas operações no Basil como uma das partes da americana Adtalem Global Educational e atualmente atende mais de 100 mil alunos em três diferentes instituições: Ibmec, Damásio Educacional e Wyden Educacional. Com um crescimento ascendente nos últimos oito anos e um consequente aumento de faculdades sob seu guarda-chuva, tornou-se necessário à Adtalem uma integração de sistemas e infraestruturas diferentes entre si.
Hoje em dia, de acordo com Eloi Reis, gestor de TI na Adtalem, essa integração é um dos principais desafios do time de tecnologia do grupo educacional para se tornar mais estratégico dentro da empresa. “Há a necessidade de nós nos abrirmos mais para o mercado, em questões de comunicação interna e engajamento. Nós temos, além disso, diversos sistemas diferentes que fazem parte da operação e é difícil que nós conheçamos todos. Um colaborador que chega passa por um processo de engajamento com a instituição, dentro do processo de integração com a equipe de RH, mas ainda é algo muito tímido”, conta ele.
Veja aqui o que Eloi Reis, Gestor de TI na Adtalem, fala sobre o assunto
Dentre as inovações que envolvem tecnologia e que podem otimizar os serviços de uma empresa, os processos de automação seriam, segundo Reis, os que mais preencheriam demandas dentro das que existem para a equipe de TI. De acordo com ele, grande parte das demandas recebidas pelo time são referentes à alteração de senhas, que poderia ser feita de forma automática. “Precisamos de uma ferramenta para gestão de identidade, que facilitaria os processos de criação de usuários e mudança de senhas. Durante uma admissão, por exemplo, o colaborador de TI precisa criar muitos acessos para vários sistemas. Muitas tarefas ainda são feitas manualmente e isso consome muito tempo”, conta.
Novas metodologias para a integração de equipes
Como modelo de integração de equipes surgiu a metodologia Squad, que ficou conhecida por ser a forma como o serviço de streaming de músicas Spotify se organiza internamente. Resumidamente, os squads são equipes multifuncionais/multidisciplinares que agregam profissionais de áreas diferentes, alcançando maior agilidade e eficiência. Assim, a partir da formação dessas equipes, cada uma delas fica responsável pelo desenvolvimento de um produto ou serviço específico. Espera-se, portanto, que, com a presença de diferentes profissionais e expertises, a tomada de decisões seja mais simples em todas as etapas de produção.
No Brasil, uma das empresas que utiliza a metodologia squad é o Nubank, que tem revolucionado o mercado de serviços financeiros no país. Segundo Marcelo Toledo, Diretor de Engenharia da fintech, a formação de departamentos dentro da empresa é algo que ficou no passado. De acordo com pesquisas realizadas pelo especialista em metodologias ágeis David F. Rico, o ROI em projetos ágeis chegavam a ser até 6 vezes maiores que em projetos tradicionais, com reflexos de até 60% de redução em custos. “Nós montamos equipes com programadores, designers, analistas, profissionais de marketing, atendimento. E conforme surge alguma necessidade, é incluído outro profissional com uma habilidade ou expertise específica”, conta Toledo.
No entanto, com a popularização dos squads, surgiu a dúvida de como universalizar a linguagem entre profissionais de áreas, às vezes, totalmente diferentes. Segundo Toledo, “a produção passa a ser muito mais colaborativa, de modo que as pessoas passam a ter os mesmo objetivos. Isso cria uma união muito forte nos times, em que os membros querem entender como funciona o lado do outro e sempre estão se ajudando entre si”.
Segundo Franklin Valadares, cofundador da startup, a RunRunIt surgiu de uma percepção de que era necessário que as empresas realizassem trabalhos e projetos contínuos, tarefa que nem sempre era possível. De acordo com ele, mudanças de escopo atrapalham os planejamentos da empresa, o que acarreta em prejuízos muito grandes. “Com a adoção do software que nós disponibilizamos, os membros de uma equipe passam a ter uma lista de tarefas e as horas úteis de cada um deles passa a ser devidamente preenchida. Isso dá foco à produtividade de um time de TI”.
Veja aqui o que Franklin Valadares, Cofundador e COO do RunRun.it, fala sobre o assunto
Com o avanço de inovações tecnológicas no mercado como um todo, percebe-se que a tendência é que as equipes de TI passem cada vez mais a ser vistas como parte integrante das estratégias de uma empresa, com participação na proposta de valor de um produto ou serviço. Assim, o gerenciamento desses times adquire maior importância, em um cenário em que as equipes de Tecnologia da Informação deixam de ser figurantes nos processos de produção e passam a ter um papel mais valorizado dentro das empresas.
A Asana é uma startup americana que oferece uma plataforma para gerenciamento de times e projetos, controlando prazos, pessoas e entregas. A startup já levantou mais de US$170 milhões em investimentos com fundos como Y Combinator e Founder Fund.
A startup americana Slack ajuda os seus usuários em uma comunicação simples e direta entre equipes. Com integrações com outras ferramentas de TI, o Slack já levantou mais de US$700 milhões em investimentos e demorou aproximadamente 1 ano para se tornar um unicórnio.
A Runrun.it, startup brasileira, é uma solução completa para gestão de tarefas, projetos e o fluxo do trabalho. A startup oferece sua solução no modelo SaaS para diversos segmentos e já levantou cerca de US$5 milhões em investimentos de fundos como Monashees e 500 Startups.
Com o conceito de marketplace de talentos, a startup Revelo surgiu em 2014 com metodologias específicas para atender melhor o novo mercado de recrutamento para posições de tecnologia. A startup já levantou cerca de US$5 milhões em investimentos e tem clientes como Itaú, Cielo e B2W.