Grandes empresas criam programas para se relacionar com Startups
Os programas de corporate venture estão invadindo as principais companhias brasileiras e se tornando ferramentas eficientes em agilizar e desenvolver seus processos de inovação.
Os programas de corporate venture estão invadindo as principais companhias brasileiras e se tornando ferramentas eficientes em agilizar e desenvolver seus processos de inovação. Essa unidade de negócio, normalmente, tem total autonomia e, principalmente, não concorre com o setor de pesquisa e desenvolvimento da corporação.
Basicamente as empresas estão se aproximando do ecossistema de startup com programas de parceria com esses empreendedores inovadores. O objetivo, claro, é gerar benefícios financeiros ou de inovação, para seus produtos, serviços ou processos. Entre os modelos adotados para garimpar essas empresas nascentes está a parcerias com aceleradoras e incubadoras. Mas algumas companhias tem adotado o investimento em iniciativas independentes, lideradas por seus próprios executivos.
O grupo Algar, por exemplo, criou a Algar Ventures em julho. O modelo da primeira fase do programa, cujo objetivo é inovação aberta, será em parceria com aceleradoras e incubadoras. Segundo o vice-presidente de estratégia e inovação do Grupo, Clau Sganzerla, as prioridades serão para as áreas em que a companhia atua, como agronegócio, energia e telecomunicações.
“Buscamos as startups que já tenham saído do papel. Tem que ter alguma prova de viabilidade”, diz Sganzerla. A previsão é de que o processo de seleção dure 12 meses, período em que a Algar Ventures vai realizar investimentos indiretos, via parceiros.
A segunda fase da iniciativa será por meio de aportes nas empresas nascentes. “Nossa intenção de investimento é sempre de forma minoritária, não queremos controlar as empresas”, destaca Sganzerla. No caso do grupo Algar, as startups não fornecerão com exclusividade, ou seja, estão livres para prospectar novos clientes.
Por ora, a Algar Ventures terá disponível 5% do lucro liquido do grupo para realizar investimentos. Em 2015, o resultado líquido total atingiu R$ 200 milhões. Contudo, outras iniciativas de inovação seguirão normalmente, como a Telecom Aceleratech.
A Porto Seguro também adotou o segmento de corporate venture, mas com a criação, em 2015, da Oxigênio Aceleradora. O objetivo é buscar projetos que possam agregar valor aos diversos setores em que a empresa atua, como telecomunicações e consórcios, além dos diversos tipos de seguro.
O programa de aceleração é feito em parceria com a Liga Venture, focada em acelerações corporativas, e com a Plug and Play, uma plataforma global de inovação. A aceleração das startups dura seis meses e elas recebem investimento direto de US$ 50 mil em troca de participação societária. O valor é dividido entre a Porto Seguro e a Plug and Play, que se tornam donas de 5% de cada um dos negócios investidos.
Durante três meses, as empresas nascentes recebem mentoria na sede da Oxigênio, em São Paulo. Posteriormente, elas têm a oportunidade de passar três meses na Plug and Play, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde também recebem mentorias e têm contato com potenciais investidores.
Além disso, a Porto Seguro faz um projeto inovador: estimula os funcionários a sair da empresa para iniciar seu próprio empreendimento. Há uma chamada interna e os melhores projetos podem ser selecionados para uma pré-aceleração e até mesmo, posteriormente, entrar na Oxigênio.
“Ele tem que tomar uma decisão: montar a empresa e se desligar da Porto ou retornar como funcionário”, explica o gerente da Oxigênio, Mauricio Martinez. Ele avalia que a ideia está estimulando o próprio empreendedorismo interno da seguradora.
“Para que perder um funcionário para o mercado se a gente pode investir nele e ele se tornar um fornecedor em potencial para a gente”, diz Martinez. No segundo ciclo de aceleração da Oxigênio, que começou em agosto, há dois projetos de colaboradores da Porto.
SEM COMPROMISSO
A construtora Tecnisa levou a sério o famoso método Lean, cunhado por Eric Ries, para seu programa de corporate venture. Basicamente, a empresa utiliza da melhor maneira possível os recursos escassos e de forma rápida, evitando desperdício de recursos, tempo e dinheiro.
Desde 2011, a cada três semanas, a companhia recebe empreendedores que queiram oferecer produtos ou serviços. Cada equipe tem até dez minutos para resumir sua ideia. Caso os dirigentes gostem da apresentação, um novo encontro é agendado, desta vez sem tempo predeterminado.
Cerca de 800 empresas já foram analisadas. Destas, 64 fecharam algum tipo de parceria com a construtora. Não há interesse em aceleração ou aportes nas startups. Se a oferta é interessante, a Tecnisa compra o produto ou serviço do empreendedor.
Diretor de inovação, Romeo Busarello garante que não há necessidade de os produtos e serviços avaliados estarem ligados à construção. Exemplo disso é o sistema de monitoramento de suas obras por drones, processo que poderia ser aplicado também em outras áreas, como no agronegócio ou em segurança.
O banco Bradesco acompanha o raciocínio de investir em startups que não necessariamente dediquem esforços ao seu setor. Na segunda edição do programa InovaBRA, que teve início em maio, entre as 11 selecionadas, cinco oferecem soluções na área financeira.
Para esta iniciativa, a instituição já registra desembolso de quase R$ 1 milhão. Em 2015, primeira versão do programa, oito empresas, de 550 inscritas, receberam aporte de R$ 115 mil em cada uma.
Para participar do InovaBRA, a startup deve ter ao menos um protótipo, e não apenas uma ideia. Em um primeiro momento, as selecionadas apresentarão seus produtos ou serviços na prática. “Testamos em nossa rede de agências ou em outros clientes. Cada uma dessas soluções deve atingir um público especifico”, explica o gerente de inovação do Bradesco, Fernando Freitas.
São três meses em integração interna, seguida de análise dos resultados e decisão sobre a contratação dos serviços. De acordo com Freitas, além do contrato, essas empresas podem receber aportes em troca de participação, sempre de forma minoritária.
O banco não se limita no mercado nacional. Freitas revela que a instituição acompanha startups no exterior, como aquelas que atuam no Vale do Silício, e há a possibilidade até de obter participação nessas empresas.
PRÓXIMO PASSO
A AES Brasil está próxima de lançar seu programa de corporate venture. Recentemente contratou Ricardo Kahn, que idealizou a primeira aceleradora corporativa do País, a Wyara, da Telefônica, para atuar como gerente de inovação.
“Entrei no começo do ano e meu desafio é bem interessante, pois estou pegando uma empresa que já tem uma reputação em inovação”, avalia Kahn. Segundo ele, a distribuidora de energia investe mais de R$ 100 milhões por ano só em pesquisa e desenvolvimento na área de assistência energética.
Apesar de ainda não divulgar os projetos, Kahn indica que faltam apenas detalhes para os programas serem abertos ao público, provavelmente, nos próximos dois meses. “Estamos fazendo bastante coisa, iniciativas internas e externas, vamos anunciar brevemente”. A ideia é trabalhar com startups, investidores e universidades.
“Vamos entregar desafios, dando os meios para ele [empreendedor] se superar a cada momento, porque esse é o bom empreendedor, aquele que supera os grandes desafios”, adianta Kahn.
A AES Brasil é uma das participantes do programa de engajamento de grandes corporações com empresas nascentes 100 Open Startups.
Fonte: DCI