Quando uma grande empresa deve ter equity de uma startup?
Desde que a Liga deu os seus primeiros passos, temos nos dedicado a analisar, estudar, testar e implementar iniciativas de engajamento entre grandes empresas e startups em diferentes mercados
A estratégia de investir em startups como forma de impulsionar a inovação nas grandes empresas ganha cada vez mais espaço no Brasil e no mundo. Grandes executivos já sabem que precisam inovar mais rápido e que trabalhar com os empreendedores é uma boa alternativa para isso. Mas na hora de dar os primeiros passos, seu maior desafio é escolher o modelo ideal para fazer essa aproximação de modo eficiente.
Corporações comprando participação ou controle de startups não são novidade. Os primeiros fundos de corporate venture capital (conhecidos pela sigla CVC) tiveram origem em meados dos anos 60 (quer saber mais do sobre a história do corporate venture capital? Dá uma olhada neste artigo do Paul Gompers), acompanhando o sucesso dos fundos independentes.
Ao longo do tempo, outros modelos de engajamento emergiram e foram adotados pelas empresas, como programas de aceleração, programas de conexão, eventos e coworkings, para citar alguns dos exemplos.
Desde que a Liga deu os seus primeiros passos, temos nos dedicado a analisar, estudar, testar e implementar iniciativas de engajamento entre grandes empresas e startups em diferentes mercados e a escolha do melhor modelo invariavelmente passa por uma pergunta: “Minha empresa deve ou não investir em uma startup em troca de participação societária?”. Neste texto vou abordar os principais aspectos que devem ser considerados nessa decisão.
Equity vs Objetivos do Programa
Antes de dar o primeiro passo, é fundamental que o executivo que irá liderar esse engajamento com startups tenha clareza do que a corporação está buscando com aquela iniciativa. Escolher ser ou não sócio de uma startup passa por esse caminho.
Como ocorre em qualquer investimento de venture capital tradicional, o retorno financeiro direto com aquele negócio pode ser um dos objetivos envolvidos. A lógica é simples: as grandes corporações possuem capital, poder de marca e acesso ao mercado que podem impulsionar as startups e, por tabela, lucrar com uma possível venda da sua participação ou dividendos futuros. Este artigo de Samuel Kortum e Josh Lerner mostra que investimentos de corporate venture capital, em geral, são tão bem-sucedidos financeiramente quanto ou melhores que os de fundos independentes.
O que diferencia o corporate venture capital do investimento de venture capital tradicional é justamente a presença da corporação como ator principal. E isso faz bastante diferença! Além do interesse financeiro direto, a corporação terá objetivos estratégicos de investir em negócios complementares ou sinérgicos à sua área de atuação. Sendo assim, ter equity de uma startup pode ser um bom mecanismo para participar do seu futuro – saber primeiro o que está acontecendo, acompanhar de perto e ter uma visão mais profunda de determinado mercado e participar das decisões, criando uma relação bem estreita e de longo prazo. Algumas vezes, como por exemplo no case do Google e da Nest, esse caminho levou à aquisição da empresa.
No entanto, a iniciativa pode ter outros objetivos, como, por exemplo, acelerar o go-to-market de determinado produto, oferecer soluções mais inovadoras para seu portfólio de clientes, melhorar a eficiência de processos internos ou da cadeia, desenvolver a startup como futuro cliente, melhorar a entrega de um produto ou mesmo oferecer uma plataforma ou API para que terceiros possam desenvolver soluções a partir do seu negócio. Em nenhum desses casos o equity é um componente fundamental – podendo, inclusive, atrasar o processo de aproximação, como vou explicar a seguir.
Equity vs Escalabilidade
Investir em troca de participação societária de uma startup também tem seus pontos de atenção e pode ser fator limitador do sucesso do seu programa de engajamento com startups. Um ponto importante a ser considerado é a escalabilidade.
m termos de tempo, investir em uma startup significa fazer um grande esforço de screening para achar os melhores projetos, seguido de um longo período de due diligence da empresa e dos empreendedores, somados a processos burocráticos de confecção e assinatura de documentos de investimento e, após o investimento, será preciso o acompanhamento próximo da startup por um longo prazo, muitas vezes ocupando um assento no board. Em termos financeiros, significa aportar capital em negócios de alto risco. Como tempo e dinheiro são escassos, há um número limitado de investimentos que uma corporação pode fazer e acompanhar – seja através de um fundo, seja de forma direta.
Além disso, sempre há a possibilidade de boas startups, com fit com o seu negócio e com as quais você poderia explorar várias oportunidades, simplesmente não precisarem ou não aceitarem o seu investimento. Se essa for uma condição de entrada para a relação, você precisa estar preparado para perder alguns bons negócios.
Em muitos casos, você irá preferir ter contato com o maior número de startups que possam se relacionar com diferentes áreas da empresa ou unidades de negócio. Nesses casos, não pegar equity significará criar menos fricção na entrada, menos custos por startup e uma estrutura mais leve para o relacionamento. Não investir e não ser sócio, nesses casos, é o melhor caminho.
Aqui na Liga, por exemplo, temos empresas parceiras que se relacionam e geram negócios com dezenas de startups simultaneamente sem necessariamente ter feito nenhum aporte financeiro. O mesmo acontece em espaços de coworking corporativos, em programas de inovação aberta e em desafios para startups.
Em mais larga escala, há empresas que disponibilizam melhores condições financeiras, acesso facilitado a APIs ou mesmo treinamentos (como é o caso de Google, Amazon ou Stripe) para que um volume grande de startups possam desenvolver soluções a partir de suas plataformas – tornando-se potenciais bons clientes no futuro ou desenvolvendo soluções inovadoras baseadas nessas plataformas – aumentando assim o seu valor.
Este artigo do Henry Chesbrough – que cunhou o termo open innovation – e Tobias Weiblen é uma ótima referência para se aprofundar nesses pontos.
Os modelos não são excludentes
Vamos presenciar um número cada vez maior de empresas criando iniciativas de engajamento com startups e é natural que, com isso, os modelos escolhidos mudem ou evoluam. Muitas vezes, a corporação pode seguir por mais de um caminho simultâneo.
Na Liga trabalhamos com algumas empresas que, além de fazer aportes financeiros, mantêm um fluxo constante de relacionamento com várias startups que não são do portfólio para explorar sinergias e oportunidades de negócio. Estas empresas aprendem com estas relações e evoluem seus modelos de forma a ter resultados cada vez melhores e mais alinhados com a sua estratégia.
Se a sua empresa tem ou está se preparando para ter um programa de engajamento com startups e quiser discutir qual o melhor modelo para você, entre em contato com a Liga. Ficaremos felizes em poder aprofundar essa discussão para o seu caso específico.