Ao longo das entrevistas realizadas para a construção do estudo de mercado sobre a Nova Mobilidade Urbana, bem como, por meio da análise de fontes especializadas e cases de sucesso do mercado, foi possível perceber que o campo da mobilidade urbana está passando por mudanças.
A mobilidade urbana ganhou força e destaque nas agendas públicas na última década e também se tornou terreno fértil para a inovação e novas tecnologias. Definida como o deslocamento de pessoas de um ponto A para o ponto B dentro da cidade, a mobilidade aparece no dicionário como “facilidade para se mover”.
Faz sentido pensar que o objetivo das cidades, então, é tornar esse movimento fluido e prático para as pessoas, uma vez que está relacionado à qualidade de vida dos cidadãos. É necessário conectar o tema de mobilidade aos meios de transportes, mas também destacar que não está limitada a isso, uma vez que outros aspectos devem ser levados em conta, como a própria infraestrutura das cidades, o planejamento urbano, a sustentabilidade, a segurança, a saúde e até os meios de pagamento.
O aquecimento do mercado de Mobilidade Urbana
A mobilidade urbana é um elo fundamental da economia global. Segundo dados do Oliver Wyman Forum, até 2030 o mercado global de mobilidade vai crescer cerca de 75%, saindo do marco de $14.9 trilhões em 2017 para $26.6 trilhões em 2030. O setor de “Serviços, Sistemas e Dados”, representando a chegada da nova mobilidade, é o que promete maior crescimento, com 12,5% de taxa de crescimento anual. Já o setor de energia aplicada a mobilidade urbana poderá alcançar sozinho o marco de $4,8 trilhões de valor de mercado em 2030.
De fato, cresce também a preocupação com a mobilidade porque há uma crise climática acontecendo. Agendas internacionais como o Acordo de Paris e metas de desenvolvimento sustentável da ONU indicam a urgência da redução da emissão de gases do efeito estufa, como o carbono que é gerado pela queima de combustíveis feita pelos veículos motorizados.
Segundo matéria da Agência Brasil, o relatório feito na 24º Conferência Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP 24) em 2018 aponta que o transporte responde por 25% da emissão de gases do efeito no nível global, dos quais os carros aparecem como responsáveis por 45% e os ônibus apenas por 5%. No Brasil existem 106 milhões de veículos, onde 65% de carros, 26% de motos, 1% de ônibus e 7% outros de acordo com dados extraídos do sistema RENAVAM, disponibilizados pelo Ministério da Infraestrutura em junho de 2020.
Nesse sentido, a conversão da matriz energética da nossa frota de veículos de combustíveis fósseis para energia elétrica ao longo dos próximos anos também pode se apresentar como uma oportunidade para o país reduzir as emissões de gases do setor de transporte.
Segundo relatório da Transport and Environment, os governos e indústrias da União Europeia investiram € 3,2 bilhões em 2017 e € 60 bilhões em 2019 na produção de veículos elétricos e baterias, enquanto o governo chinês e suas indústrias investiram cerca de € 38 bilhões entre 2017 e 2019. Visto esse movimento, é esperado maior participação no mercado global dos diferentes modais elétricos, como ônibus, caminhões, carros, motocicletas e bicicletas.
A experiência do cidadão no centro das mudanças
Diante do contexto de crescimento das cidades, transformações para um gerenciamento otimizado da mobilidade é urgente para o Brasil, um país que tem cerca de 209 milhões de habitantes, dos quais 76% vive em cidades, de acordo com o IBGE. Se hoje já percebemos uma infraestrutura de transporte insatisfatória para a demanda, há um desafio pela frente diante da estimativa de que até 2030 o Brasil terá cerca de 225 milhões de habitantes e 90% viverá nas áreas urbanas, de acordo com a ONU-Habitat.
Entramos, pois, em um momento de refletir sobre qual a cidade que queremos através de um debate sobre como e quais os papéis das tecnologias, inovações, das startups e dos governos municipais dentro desse contexto para promover uma mobilidade urbana mais sustentável, ajustada às demandas e centrada no bem estar das pessoas.
Nesse contexto, sob o ponto de vista das startups, fica claro que o setor da mobilidade tem muito espaço e necessita de soluções que tragam mais eficiência e coloquem o usuário, ou seja, o cidadão, no centro do desenho do serviço. No eixo comportamental, surgem movimentos de consumo como a economia compartilhada e a mobilidade como serviço que estão mudando a forma com que parte da população brasileira utiliza os meios de transporte.
O estudo que fizemos sobre a Nova Mobilidade é dividido em três aprofundamentos. O primeiro deles oferece um entendimento sobre o panorama nacional de mobilidade urbana; o segundo apresenta desafios e oportunidades da Nova Mobilidade; e no terceiro falaremos sobre transformação digital na mobilidade como caminho para desenvolver cidades inteligentes. Para exemplificar e trazer mais informações a cada um destes capítulos, especialistas em diversos setores e áreas da Mobilidade também compartilharam suas visões de cenários e oportunidades nos tópicos apresentados.