Em 2015, o consumo de bens e serviços no setor de saúde atingiu R$ 546 bilhões, valor que representa 9,1% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, segundo informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Tais informação estão contidas na Conta-Satélite de Saúde Brasil e foram publicadas no portal Agência Brasil. Do montante, R$ 231 bilhões foram referentes às despesas governamentais, enquanto que R$ 315 bilhões corresponderam a despesas familiares e de instituições prestadoras de serviço.
Ainda de acordo com a pesquisa, a participação do setor no PIB aumentou entre 2010 e 2015: de 6,1% de participação para 7,3%, respectivamente. De acordo com um estudo publicado no The Lancet, importante periódico científico – no qual foram feitas projeções de gastos em saúde para 2040, em mais de 180 países -, as despesas brasileiras no setor representarão 11% do PIB.
O uso de Health Techs pelo mundo
Dentro do setor, a tecnologia e modelos digitais têm sido adotados no mercado ao redor do mundo, com foco em reduzir os custos da área da saúde e ajudar na construção do futuro deste mercado. Simultaneamente aos esforços feitos pelos players deste mercado, os custos continuam crescendo. Conforme relatório da PwC, os custos para tratar um paciente aumentariam 6,5% em 2017 em relação ao ano anterior. As oportunidades de avanços tecnológicos na saúde são imensas. Uma reportagem do Wall Street.com, por exemplo, aponta que a tecnologia é, provavelmente, o maior mercado a seguir na indústria de Saúde.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), as tecnologias de saúde podem ser definidas como o conjunto de conhecimentos e competências em formato de dispositivos, procedimentos e sistemas, desenvolvidos para solucionar problemas de saúde e prover melhorias na qualidade de vida. As health techs, que são startups e negócios que apresentam inovações tecnológicas para o setor, têm um papel importante no surgimento dessas tecnologias voltadas para a área de saúde. De acordo com o CB Insights, foram investidos aproximadamente US$ 29 bi em mais de 4.400 contratos fechados desde 2013.
Elas disponibilizam ao mercado soluções que podem tanto solucionar problemas já existentes no setor quanto abrirem janelas de oportunidade para novos hábitos de consumo, como é o caso do uso de mídias sociais para obtenção de conteúdo relacionado à saúde. Segundo pesquisa divulgada pela AKW Medical, mais de 60 milhões de pessoas fazem uso de mídias sociais para atividades relacionadas à saúde. Existem, além disso, mais de 9000 aplicativos referentes a questões médicas e de saúde.
No Brasil, a população também tem se interessado por novas alternativas no acesso à saúde. Com a crise econômico-financeira que obrigou os brasileiros a cortarem gastos, passaram a ser consideradas outras opções para o plano de saúde. De acordo com Heiti Tomita, mentor de startups, a crise dos planos de saúde abriu espaço para o surgimento de inovações pontuais. Isso, pois o modelo, que normalmente é atrelado aos vínculos empregatícios com a empresa gera ondas de estresse aos indivíduos quando se desligam das corporações.
Várias startups estão apresentando soluções mais dirigidas, atacando os flancos abertos pela dificuldade do modelo dos planos de saúde. Um bom exemplo são as que focaram em atendimento para classe baixa-renda, como o Dr. Consulta, que possui clientes que muitas vezes não têm condições de serem amparadas por planos de saúde ou não estão satisfeitas e acabam indo para uma alternativa que o mercado começou a disponibilizar”, afirma Tomita.
O impacto das tecnologias na cadeia de saúde
Os novos negócios apresentam soluções para o mercado de saúde como um todo. Atingem não só os usuários dos serviços e produtos da área e os intermediadores, mas também os outros atores, que são essenciais para o funcionamento da cadeia. Os operadores de saúde, como as clínicas médicas e os profissionais atuantes do setor, passaram a ter o desafio de estudar novas maneiras para reverter a situação de altos gastos e diminuição das receitas. Isso, pois a crise nos convênios de saúde os afetaram diretamente por serem a principal fonte pagadora dos hospitais, clínicas de medicina diagnóstica, ambulatórios e outros.
Assim, inovações como a inteligência artificial se tornaram cada vez mais essenciais e usadas pelos operadores. De acordo com o relatório Digital Health Technology Vision 2017, realizado pela Accenture, 84% dos executivos da área de saúde entrevistados acreditam que IA poderá revolucionar a maneira que eles obtêm informações e a maneira como irão interagir com seus pacientes.
Os distribuidores e fornecedores de recursos da área de saúde também passaram a investir e apostar em inovações e novas tecnologias com o propósito de deixarem seus processos mais otimizados. As transportadoras e distribuidoras, por exemplo, passaram a ter de conciliar as pressões de regulamentação, preço e de qualidade e buscaram alternativas para se adaptarem aos novos modelos comerciais e de serviço.
Dessa forma, introduziram análises de base de dados por meio de softwares e plataformas de gestão de processos, apostaram em novas formas de entregas e investiram em dispositivos para certificar que os recursos chegassem ao destino final sem serem danificados ou extraviados. E, as empresas responsáveis por fornecer tais produtos, além de também usarem análises automáticas de dados, também vêm cada vez mais prestando atenção em robotizações e tecnologias de pontas aplicadas nos equipamentos.
Falta de maturidade e corporativismo: os grandes desafios do setor
No entanto, apesar de estarem surgindo oportunidades de crescimento para as startups de healthcare, a falta de base científica e de maturidade do mercado dificultam maiores investimentos na área. Marcelo Caldeira, Coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo e do Núcleo de Estudos Estratégicos no Setor de Saúde (FEA-USP), acredita que o mercado hospitalar brasileiro ainda não é maduro, se comparado com outros setores, por conta da relativa fraca competição existente. “Apesar de estar mudando o cenário em empresas de ponta, o setor de saúde ainda possui um corporativismo muito grande. É preciso incorporar mais instrumentos de gestão”, diz.
Segundo Caldeira, por conta de investimentos de capital estrangeiro no Brasil, está caminhando gradualmente para o amadurecimento. Para isso, ele diz ser essencial a relação entre governo, startups e grandes corporações. E, apesar de o país apresentar iniciativas embrionárias, estamos ainda aprendendo a investir em novos modelos de negócios e inovações para a área.
O alinhamento desses três elos é o que favorece a inovação. Porém, há poucas iniciativas estruturadas e muitas ações pontuais. É preciso que as corporações criem uma relação ampla e concreta com as startups. Somente assim que serão trazidas as inovações. Por sua vez, as startups precisam identificar as oportunidades que são interessantes e adequadas às competências delas, avaliando o tamanho e a viabilidade da solução. Hoje não faltam aberturas para inovação em saúde”, diz Caldeira.
Tomita também aconselha os empreendedores que têm a intenção de criar novos negócios na área a entender os problemas que o setor possui. “Além de ser necessário entender o segmento, é preciso apostar no que o mercado precisa. Independentemente de se se sentir confortável ou não, é preciso investir em tecnologias e soluções que têm escala, tenha quem use e quem pague. Os empreendedores precisam ir atrás da melhor configuração, equipe, recursos e conhecimento para conseguir desenhar uma solução para aquele mercado específico”, diz. Tomita também chama a atenção para a diferença entre os mercados de saúde brasileiro e internacionais. Segundo ele, não basta identificar uma oportunidade fora do país e querer aplicá-la de forma igual no Brasil.
Para Caldeira, os fatores que dificultam são principalmente a falta de uma cultura de inovação, com estruturas organizacionais preparadas para se relacionarem com as startups, de forma que incentivem a escalabilidade e crescimento delas, a disponibilidade de recursos para capital de risco e gestão do tempo para essas inovações. Entretanto, ele acredita que a partir do momento em que as empresas e os governos começarem a perceber que as inovações trazem desenvolvimento econômico, naturalmente as coisas vão ficar cada vez mais fortes. É uma questão dos elos perceberem os resultados e colocarem iniciativas, concretas, estruturadas e não pontuais.
Em uma análise do tema, dividimos o setor de saúde em cinco grandes atores, que, individualmente, permitem que os processos da área sejam integrados. Você pode conferir esses e outros posts no link abaixo.